Page 4 - Jornal Gueto 2017
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homem e da mulher na sociedade, tem con-  pagam simplesmente por serem negros. A   e medidas de coação diferentes. É um facto
 sequências bastante negativas na educação   polícia judiciária tem fama de ser eficaz, e   que um negro muitas vezes fica preso efe-
 dos filhos que são obrigados a viver com   não é por acaso. A PJ em muitos processos   tivamente logo à primeira vez que comete
 mãe, pai ou familiares próximos ausentes,   cujos  verdadeiros  responsáveis  não  encon-  um roubo, ao passo que um branco fica só à
 mutila a capacidade económica das famílias,   tra, acusa pessoas que pouco ou nada têm a   terceira vez. Muitos são os casos de presos
 porque como há mais homens presos do que   ver com o crime, e prende a pessoa no lugar   que estão a cumprir pena por um crime que
 mulheres, e normalmente são os homens que   dos verdadeiros autores. Os agentes têm que   cometeram e por mais dois ou três proces-
 contribuem com a maior parte dos recursos,   mostrar serviço a qualquer custo, e nós como   sos que a polícia inventou já depois de terem
 muitas famílias ficam paralisadas. A prisão   não somos mais do que números ou objetos,   sido detidos. Um pormenor que facilita as
 põe também em causa a própria reprodução   é fácil prender-nos e destruir as nossas vidas.   sentenças injustas, é a lei que faz da prova
 das comunidades. No caso dos afro-ameri-  Conheço o caso de um senhor, entre muitos   produzida em audiência a prova fundamen-
 canos, os dados revelam que há um ratio de   outros, que foi condenado a uma pena de 8   tal para a decisão dos juízes. Isso leva a que
 4 mulheres para apenas um homem, o que   anos por tráfico, por ter dado boleia a um   em muitos casos em que a polícia não tem
 além do número de presos se deve também   dos implicados no caso. Não havia nada que   provas materiais, basta qualquer pessoa pos-
 ao número de infetados com HIV, mortos   o ligasse diretamente ao crime, mas como a   ta como testemunha afirmar no julgamen-
 por homicídio etc... As prisões americanas   polícia escreveu o nome dele no papel como   to que o arguido cometeu o crime para que
 estão a contribuir para a extinção matemáti-  sendo o arguido que faltava encontrar, e um   ele seja condenado. E se for um agente da
 ca dos afro-americanos.  inspetor testemunhou contra ele, condenar-  polícia a testemunhar, a sua palavra nunca
       Na europa a situação é igualmente   am-no. Ele nunca cometeu um crime que   é posta em causa. Existe muito sofrimento
 alarmante, embora menos falada e estudada.   seja, sempre trabalhou desde que está em   silencioso de africanos injustiçados atrás das
 A percentagem de africanos presos na eu-  Portugal e tem mais de dez anos de descon-  grades em Portugal, que deve ser denuncia-
 ropa é elevada, sobretudo em países como   tos para a segurança social. Com mulher, e   do. As pessoas atingidas conformam-se com
 frança, Inglaterra,  Portugal e  Espanha.   filhos para criar, não é difícil imaginar o es-  a situação, porque não têm meios para se
 Estando à partida em situação de grande   trago que fizeram na vida dele. Esse tipo de   defenderem de um sistema que causa danos
 desvantagem económica em relação aos eu-  montagem de processos é bastante comum.   irreparáveis nas suas vidas.
 ropeus, o imigrante africano e seus descen-  Desde que a pessoa seja negra, encaixam        Quando cometemos um crime que vem a
 dentes  são  facilmente  criminalizados.  Em   como bem entendem nos processos, e se a   público, a comunicação social e a sociedade
 Portugal, particularmente na área da grande   pessoa escolhida tiver cadastro ainda melhor,   portuguesa individualizam logo o caso, sem
 lisboa, os negros constituem a maioria nas   porque reforça a credibilidade da polícia.  nunca tocar nos problemas sociais com que
 prisões.  Frequentemente,  cai-se  numa  du-       O sistema judicial português é profunda-  nos defrontamos todos os dias. Nós pas-
 pla armadilha montada pelo estado e pela   mente racista, injusto e criminoso. Há jovens   samos a existir quando há crime envolvido.
 sociedade. A sociedade em que vivemos é   negros condenados a 18 anos de prisão por   As drogas inundam as nossas comunidades,
 extremamente falsa, porque por um lado   roubo de telemóveis, por terem vários pro-  mas ninguém questiona sobre que forças
 promove de forma doentia o materialismo e   cessos. Os crimes que são mais penalizados   estão por detrás disso, como se nós tivés-
 o consumismo como ideais a atingir, valor-  são crimes normalmente praticados por pes-  semos inventado a droga e fôssemos nós os
 izando as pessoas pelos bens materiais que   soas da classe baixa como furtos, roubo e pe-  que mais lucram com o tráfico. Os nossos
 possuem; Por outro lado, quando alguém   queno tráfico. O sistema é suave até demais   inimigos sabem que ao assassinarem a nossa
 comete crimes por razões materiais, é a mes-  com crimes como violação, pedofilia, crimes   imagem, e ao prender-nos, reduzem o nosso
 ma sociedade que aparece para condenar.  financeiros e mesmo homicídios, que são   potencial de invertermos a nossa situação de
     Para além da culpa que temos que atribuir   crimes bastante graves que deixam marcas   classe e a nossa situação racial.
 ao conjunto do sistema político, económico   para toda a vida. Muitos dos crimes pratica-
 e judicial português por criar as condições   dos por jovens africanos causam mais danos
 que levam ao emprisionamento dos africa-  materiais do que outra coisa. Esses acabam
 nos, somos altamente injustiçados a muitos   por ser mais penalizados do que homicídi-
 níveis. Contam-se aos milhares as pessoas   os, sobretudo se praticados por europeus.
 da nossa comunidade que estão na prisão   Há sem dúvida um tratamento diferenciado
 sem terem cometido nenhum crime, e que   para os negros. Pelos mesmos crimes penas


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