Page 545 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 545
lugar. As pernas pareciam feitas de massa. Estava tudo dançando diante de
seus olhos.
– Que está fazendo, Jill ? Caia fora daí, sua boboca! – gritou
Eustáquio. Mas a voz parecia vir de muito longe. Sentiu que ele procurava
agarrá-la. Jill, no entanto, não tinha mais o domínio dos braços e das
pernas.
Houve um instante de agonia na ponta do penhasco. O medo e a
tontura impediam que ela soubesse de fato o que estava fazendo, mas de
duas coisas se lembraria a vida toda, e sonharia com elas: uma, de que se
libertara, com um safanão, das mãos de Eustáquio; outra, de que Eustáquio,
no mesmo instante, tinha perdido o equilíbrio, precipitando-se, com um
grito de terror, em pleno abismo.
Felizmente não teve tempo de pensar no que havia feito. Um imenso
animal de cores brilhantes apareceu à beira do precipício. Estava deitado e
(coisa estranha) soprando. Não estava rugindo ou bufando: simplesmente
soprando com a boca escancarada, como se fosse um aspirador de pó
trabalhando para fora. Jill estava tão perto da criatura que podia sentir as
vibrações no próprio corpo. Por pouco não desmaiou. E até queria
desmaiar, mas o desmaio não depende da nossa vontade. Por fim, lá
embaixo, viu um pontinho escuro afastando-se do penhasco, flutuando
ligeiramente para cima. A medida que subia, mais se afastava, movendo-se
a grande velocidade, até que Jill acabou por perdê-lo de vista. Parecia que a
criatura ao lado soprava o pontinho para longe.
Virou-se e olhou. A criatura era um Leão.