Page 43 - Quando chegar a primavera
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pessoal, livre arbítrio e toda sorte de defesa ao meu corpo, minhas
regras.
Diana Flores e Firmina Alves não desconheciam o preço da barganha
e promessas mútuas com as entidades sofredoras. Em muitos
momentos, através da mediunidade de Carlos Tenório, mago
praticante com mais de vinte anos de sacerdócio, a clareza com a qual
eram firmados os acertos de conta, não deixava dúvidas que o preço a
pagar não estaria ao alcance das consulentes. Na ocasião, ouviu-se,
intrépida advertência:
_As meninas estão em atraso com a entrega do mês. Estamos em falta de
material indispensável para nossos objetivos. Esperamos mais empenho de
vocês.
O hospedeiro, em transe profundo, contorcia-se agonizante. Aquela
entidade apresentava-se com polidez calculada, mas, a verdadeira
faceta de sua identidade, escondia as origens milenares que lhe tipifica
a "autoridade" e temor que impunha a todos. Não podia esconder os
dentes trabalhados em fina distância, olhos puxados, língua partida ao
meio, simulando movimentos involuntários de víboras sedentas. A pele,
com lustre nada discreto, em tonalidades de profunda escuridão,
produzia ruído semelhante aos insetos devoradores, numa estridente e
insuportável desarmonia sonora. Os ouvidos humanos não
conseguiriam suportar a vibração densa. Logo em seguida,
demonstrou interesse em Diana Flores, dizendo-lhe:
- Diga-me, donzela formosa! Estás com medo? Procure disfarçar melhor
suas fraquezas ridículas. Precisamos de você. Já nos deu enorme trabalho,
uma vez que estamos de olhos em suas habilidades, desde os últimos
centro e dez anos. Não nos abandone, pela segunda vez. Já fomos pacientes
com seus caprichos e você nos traiu em nome do infeliz Cordeiro. Não tens
que se sentir covarde, mas, sim, arrependida e jurar-nos fidelidade.
Diana Flores demonstrava agitação e medo. Estava apavorada. Sentiu
no mais profundo d'alma, remorso, desespero e sofrimento. Alguma
coisa lhe dizia que aquela não era a primeira vez que mantinha