Page 44 - Quando chegar a primavera
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                      contato  com  a  maléfica  entidade.  No  plano  mental,  viu-se  arrastada,


                      nos porões da memória, para um vale de penumbra, na companhia de

                      jovem artesã, filha de pescador da região, a quem foi capaz de negociar


                      a venda imediata, aos retirantes camponeses, dando-lhes o direito de


                      fazer o que bem entendessem com o corpo e o destino da pequena


                      Tulila. A quantia desprezível, obtida pela negociação, esvaneceu-se ao


                      longo  de  um  único  dia,  demonstrando  que  a  fria  crueldade,  nem


                      alimenta e nem soma aquisições sagradas à evolução de espírito.




                              A  entidade,  segurava-se  ao  medianeiro  atormentado,  com  a  mais


                      íntima facilidade. Com os olhos carregados de lágrimas,  Diana Flores,


                      apoderou-se  de  covarde  decisão.  Voltava  a  se  comprometer  com  o


                      antigo comparsa, de modo que jurou executar suas ordens. No íntimo,

                      a criatura sorvia pretensiosa vitória. Ao mesmo tempo, conhecia a alma


                      e inclinação de Diana. Nesse instante, com maior convencimento e zelo


                      à  amiga  desprotegida  e  assustada,  Firmina  Alves,  aproximando-se  do


                      médium em transe, prosseguiu:





                              -  Imagina  se  lhe  traremos  decepção,  Senhor  da  Bestial  Maldade.

                      Pessoalmente,  me  comprometo  em  auxiliá-la  em  qualquer  tarefa.  Vossa


                      Degenerescência terá não uma, mais duas servas fieis.





                              Inevitável.  Aos  ouvidos  do  Maligno  Mandatário,  as  investidas


                      obtiveram  vantajosa  garantia.  Sem  que  desse  pista,  envolvia  as

                      consulentes  com  teias  invisíveis,  instalando  em  cada  uma,  forma


                      ovoide, comparável a pequenas bolhas vivas, com as quais teria pleno


                      controle  sobre  as  infelizes.  De  modo  inadvertido,  escapou-lhe  à


                      percepção  de  que  Diana  Flores,  em  reservada  coragem,  dirigia,  em


                      pensamento, pedidos de proteção aos Emissários da Luz. O hábito de


                      proferir rogativas ao Alto deu-lhe a oportunidade de não ter instalado,

                      em região basal do cérebro, os sistemas de controle e de indução. Para


                      a  convicção  da  Bestial  Sombra,  nenhuma  interferência  ocorrera.


                      Passava despercebido, pela décima vez, que não era tão fácil romper


                      bloqueios. O testemunho de agradecimento público seria retomado em


                      outras épocas sob os cuidados de dedicada obreira de Javé, a quem lhe

                      seria dada a oportunidade de reabilitação, sob a égide da maternidade


                      acolhedora  de  Marta  Lemos  Nestório.    Diana  Flores  seria  recebida  na


                      roupagem de dedicado filho, em tempos do presente.





                          O acordo feito, assinatura lavrada com as tintas invisíveis do compro-
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