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Caos sentimental (conclusão)


              Dia 35 de confinamento

              A apresentação que tive há uns dias correu-me muito bem! Fiquei satisfeita com os elogios da profes-
          sora e, mais importante que tudo, fiquei orgulhosa de mim mesma! No entanto, o pico dos trabalhos ain-
          da não terminou e não vejo outra opção senão estudar e continuar a trabalhar. Se estou farta? Estou! E
          sei que ainda não passou um mês desde o início das aulas online, mas as tarefas que me têm enviado a
          mim e aos meus colegas parecem não ter fim.

              Dia 39 de confinamento

              Estou no meu quarto às escuras, porta trancada, sentada num canto a olhar para as luzes que ilumi-
          nam a cidade. As únicas coisas que me fazem companhia são as velas que ainda há pouco acendi mas
          que vão queimando a cera e o pavio que as constituem, lentamente, e uma música que ouço sempre
          quando me sinto em baixo: “Nutshell", dos Alice In Chains. A razão por estar a sentir-me assim? Stress,
          talvez. Estou proibida de estudar depois do jantar e nem sei como hei de organizar as tarefas escolares
          que ainda me faltam terminar. A minha rotina não passa disto: acordar, tomar banho, estar presente nas
          aulas online, cumprir as tarefas que são colocadas à turma durante a semana e cumprir as tarefas que
          exigem mais trabalho, isto é, as apresentações orais, maioritariamente. Obviamente que tento cumprir
          tudo num só dia, dado  a rapariga perfecionista que sou, mas agora que o meu pai me proibiu de estudar
          depois do jantar, nem sei como organizar o meu trabalho. É isto. É isto que se passa. Estúpido, não é?

          Não. Para mim não. Dizem os meus pais que é para o meu próprio bem, mas isto só me deixa mais
          stressada. À noite é quando me sinto mais motivada e inspirada para trabalhar! Não sei, há algo nesta
          parte do dia que me faz sentir assim! Por isso é que estou frustrada... por isso é que choro no meu quar-
          to, sozinha…

              Dia 58 de confinamento

              Não sei o que é se passa comigo. Estes meus pensamentos não param de me aterrorizar, estas aulas
          não me deixam respirar, o ambiente aqui em casa começa a enjoar-me. O que é que se passa? Primei-
          ro, a escola, o stress e o desejo de não desapontar nem os meus pais nem os professores! E agora, o
          que é que vem mais? Parar um pouco para olhar-me ao espelho e reparar no quão gorda estou a sentir-
          me? Pensava que estes pensamentos já se tinham ido embora... julgava que tinha recuperado por com-
          pleto... acreditava que não voltaria a olhar para mim desta forma, mas pelos vistos só continuo a odiar-
          me ainda mais... a cada dia que passa… a cada segundo que passa. Só quero desaparecer, evaporar-
          me deste mundo, só quero desaparecer, é pedir muito? Só choro... só choro por não ser bonita o sufici-

          ente, por não ser esperta o suficiente, por não agradar aos outros, por não deixar ninguém orgulhoso.
          Para quê viver se isto é a única coisa que sinto? Ninguém iria dar pela minha falta, certo? Ninguém iria
          querer saber! Provavelmente, ninguém iria aperceber-se da minha ausência, então para quê continuar
          aqui? Tens duas escolhas, Ana: ou regressas à velha menina de 13 anos que recusava comer e matava
          -se a fazer exercício físico com o intuito de atingir o seu peso ideal, ou juntas toda a tua coragem e vais
          falar com alguém de confiança sobre os teus sentimentos... sobre o que está a prejudicar-te... sobre o
          que está a fazer-te pensar em coisas que só destroem a tua saúde mental. A escolha é tua.

                                                                                 Ana Luísa Lúcio, n.º 1, 10.º SE1





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