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ESPERANÇA Covid, o que me ensinaste
tenho-a num canto umbroso Este segundo confinamento Apesar de saber as minhas qua-
Foi das piores fases de aturar lidades e defeitos
Reconheço que interiormente me
amassada pela raiva feroz Tive de permanecer em completo isola- continuo a explorar
mento
Sonhava com os nossos mo-
e embrulhada na saliva de uma Pois a covid no meu corpo quis entrar mentos
cuspidela de desprezo Mas em ti não podia tocar
Com fome e com o quarto fechado
Bolachas chegaram pelas janelas Depois desta pior etapa passar
O pior é que ficaram presas no telhado Com a minha família me resolvi
tenho-a afogada na lareira do E parte do aspirador ficou com elas encontrar
desespero Saudades consegui matar
Sentia-me triste e isolada E muitos sorrisos arrancar
em chamas nos lençóis de água A cada dia que passava
Sozinha e preocupada Tal como no primeiro confina-
da agonia em que me deito mento
Mais sinais o meu corpo dava No terraço era frequente o almo-
ço e o jantar
Ignorar aquilo que sentimos e com frieza De tanto tempo fechados em
temo aquela que ainda ousa Manter os sentimentos enterrados recolhimento
romper Vai contra a nossa natureza Até ao som de uma música nos
pusemos a dançar
Estamos todos errados
por entre as cinzas febris
Nos meus sonhos viajei até à lua Todos mascarados começámos
por me prender a aversão à in- Mas em casa tive que ficar a cantar
Esquecemos por completo esta
certeza Com medo do escuro da rua situação
Mantive as luzes acesas p’ra negativida- Com um vídeo criativo fomos
de não me afetar desejar
Feliz aniversário a um amigo do
mas quero-a no meu colo Quando conheci o topo deste medo que coração
era tão meu
~quero-a~ Aprendi e reconheci a minha coragem E se eu disser que até os mais
para que as minhas pernas não Explorei o meu Eu velhos alinharam na brincadeira?
De tão fatigados da covid estar
E comecei a criar a minha mensagem
fraquejem Equiparam-se todos à maneira
E piruetas começaram a ensaiar
para que os meus braços não De tão cansada do meu quarto estar
Novos acordes na viola comecei a criar
quebrem Querem saber o melhor?
A mobília decidi mudar A saudade também tomou conta
para que os meus olhos não Já que sem imaginação, nenhuma dis- de mim
tração iria encontrar. Mas com este nosso sentido de
embacem humor
A música é e sempre foi o meu refúgio Conseguiremos chegar juntos
para que os meus lábios não
Slow J confessou que as paredes nunca até ao fim
sequem o limitarão
A imaginação é um privilégio E serão estas boas memórias
para que o meu peito não grete Que eu irei recordar para sempre
Com ela reinvento-me e entro em ação
Aos meus filhos contarei estas
histórias
A verdade é que tive mais tempo para Para eles saberem a maluquice
Sofia Morgado, n.º 22, 11.º LH2 mim que sempre foi esta gente
Nesta casa que é o meu lar
É aqui que sou feliz, sim
Tatiana Piedade, n.º 25, 11.º
Mesmo que todo o mundo lá fora decida
desabar LH2
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