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Abraços e beijos virtuais, redes sociais e um mundo parado
Pandemia mundial, por onde começar? Inicialmente, todos acreditávamos que seriam apenas duas
semanas de quarentena. No entanto, tal não sucedeu. Os sorrisos, os convívios com amigos e familia-
res, os beijos e abraços, os cumprimentos e apertos de mão foram substiuídos por máscaras e distanci-
amento social. Duas semanas passaram a ser um ano. Toda esta situação teve, tem e terá um grande
impacto na vida de todos nós.
Confinados, tivemos de arranjar hobbies para passar o tempo. Alguns escolheram organizar, final-
mente, a casa. Outros, puseram a leitura e as séries em dia. Também o processo de comunicação foi
afetado, com a distância. Passei a realizar chamadas diárias com familiares e amigos. Os meus avós,
que pouco ou nada entendiam de tecnologias, agora são verdadeiros ‘profissionais’
Os aniversários sofreram uma alteração na sua dinâmica. Em vez do habitual convívio familiar com
comida para dois meses, optámos pela videochamada com todos e um bolo de aniversário que tanto
podia parecer de ótima como de péssima qualidade (dependendo da internet de cada um). Confesso
que não foi tão mau como a descrição o faz parecer, mas foi definitivamente diferente do que esperava.
No entanto, nem todos temos a sorte de ter uma família ali para nós. Nestes meses passados, tenho
pensado sobre os idosos que se encontram em lares e que não recebem visitas, muitos deles, desde
antes da pandemia ter começado. Deixados ao abandono e rodeados de caras estranhas, a tristeza e a
solidão são sentimentos que dominam na vida da maior parte destes idosos. Merecem muito mais, mas,
infelizmente, nem uma chamada recebem para lhes relembrar o seu valor.
Crianças que nasceram ou que estão a viver os primeiros anos de vida durante um confinamento,
terão, posteriormente, dificuldade em socializar, pois não desenvolvem essas capacidades no tempo
devido. Lembro-me dos amigos que fazia numa simples ida à praia. O mesmo não é possível, na situa-
ção em que vivemos.
Ainda assim, o pior disto tudo não é o uso da máscara ou as restrições impostas pelo governo. O
maior problema, e um dos ‘vírus’ mais comuns, é o egoísmo. O egoísmo de certas pessoas em fazer a
sua vida normal como se não tivesse acontecido nada, sem pensar nas consequências que isso traz
para os outros. Pessoas estas que não usam máscara mesmo quando é pedido insistentemente. Pesso-
as que se dirigem a paredões para passear cães que não têm, só porque estão fartos de estar em casa.
Estamos todos!
Não me interpretem mal, não pretendo, com este texto, “ralhar” com ninguém. Apenas gostava que
tivéssemos todos compaixão uns pelos outros. Os médicos que, todos os dias, tentam salvar o nosso
país e os nossos hospitais da rotura, merecem esse respeito.
São tempos que exigem resiliência, na medida em que temos de resistir à tentação de realizar certas
ações que nos possam dar um sentimento de liberdade e restabelecimento de algo perdido. Por exem-
plo, se algum amigo nos convidar para um convívio, por muito que queiramos aceitar o convite, deve-
mos resistir a esse impulso e pensar nas consequências que isso pode ter para nós e para os que nos
rodeiam (núcleo familiar, essencialmente). É muito fácil dizer, eu sei, mas com um bocadinho de esfor-
ço, tudo é possível.
É complicado expressar o quão difícil tem sido viver uma pandemia durante a adolescência, a idade
em que mais fazemos amizades e aprendemos valores importantes para o futuro. No entanto, sei que a
forma mais eficaz de lidar com um acontecimento desta envergadura é compreender que as nossas
ações podem fazer a diferença, para o bem e para o mal. Por isso, sermos bons cidadãos nunca foi tão
importante. Afinal de contas, usar máscara e praticar o distanciamento social pode prevenir muitas infe-
ções e internamentos.
Mafalda Camilo, n.º 16, 12.º CT2
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