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Uma Mudança no Olhar  (conclusão)

             O terceiro aspeto sobre o qual refleti no fim do confinamento relaciona-se com o “Serviço ao próximo”. No pri-
          meiro confinamento aconteceu algo que nunca mais poderei esquecer. Mesmo que não por culpa da Covid-19, a
          minha avó paterna faleceu (nos meus dezassete anos, em 2020, relevante mais à frente). Os meus avós paternos
          eram os únicos que ainda estavam vivos, estando hoje apenas o meu avô. Como a minha avó estava em “estado
          vegetal” há seis anos, já me tinha vindo a preparar para este acontecimento. No entanto, até aos meus dez ou on-
          ze anos, quando entrou neste estado (em 2013), nunca lhe tinha dado muita atenção. Sim, à primeira leitura, isto
          faz-me parecer um miúdo absolutamente idiota. Como dito anteriormente, eu sou uma pessoa cujo feitio se asse-
          melha ao de um lobo solitário. Em parte por sofrer de uma doença mental, mas também por ter sofrido de bullying.
          Como resultado, não era comum ter fé alguma no ser humano. Mesmo que confiando na minha família, limitava-
          me ao mínimo de interação para poder manter-me no meu canto, no qual apenas existiam aspetos que controlava,
          sendo a única maneira de me sentir seguro. Porém, ao longo dos anos, desde 2013 até o sucedido em 2020, foi
          inevitável o entendimento de que não conhecia bem aquela pessoa, e que tinha sido alguém demasiado importan-
          te que eu tinha renegado e deixado passar ao meu lado. Não tive oportunidade de me redimir, e passou a ser um
          fardo que carrego todos os dias. Como resultado, e sendo vivo o meu avô, comecei imediatamente a agir da forma
          de que a minha avó teria gostado. Com ou sem doença mental, não podia deixar passar a oportunidade de agra-
          decer a esta pessoa por me ter criado e por tudo o que faz por mim, que é mais do que se possa simplesmente
          expressar por meras palavras. Pus-me ao seu serviço, e hoje tento centrar o máximo da minha vida na ajuda ao
          meu avô e evitando que alguma vez se sinta um peso ou alguém abandonado. Hoje, é um grande amigo e alguém
          que em tudo melhora a minha vida, e espero que o possa aproveitar por muitos mais anos.
                 Em suma, mesmo com as limitações que a Covid-19 me impôs, a minha vida progrediu num sentido muito
          positivo. Consegui melhorar a forma como me relacionava com outras pessoas e corrigir grande parte das minhas
          reações negativas. Sobretudo, aprendi uma das lições mais importantes no que toca ao valor do ato de serviço ao
          próximo e ao gosto e gratidão que decorre do mesmo. Diria que o que mudou nem foi tanto a minha realidade,
          mas sim a forma como olhava para ela, e como agia sobre esse olhar. Este tornou-se mais humano, mais atento
          ou caridoso e, acima de tudo, mais grato.

                                                                                                        Anónimo

                                     Liberdade? Que coisa antiquada!


             Nos dias de hoje, o assunto mais abordado no nosso quotidiano é esta grande epidemia pela qual
          estamos a passar… pois estamos a viver um período que irá ser marcante para a nossa história.
             Muitas vezes nos questionamos se “ainda temos liberdade?” e a resposta a esta questão é bastante
          evidente: a nossa liberdade foi “atacada”.
             A cada dia que passa as exigências não param de crescer. Temos cada vez mais restrições que irão
          durar bastante tempo, porém são exigências necessárias e isso não o podemos negar! Perdemos e ab-
          dicamos de muita coisa, por exemplo, a liberdade de poder sair à rua para irmos ter com os nossos ami-
          gos ou família… Porém, perdemos essas coisas para um bem maior.

             Com esta epidemia muita coisa mudou! Por exemplo, nós jovens (alguns), que sempre fomos muito
          ligados aos telemóveis e computadores, hoje em dia, só nos queremos ver livres deles… Ou muitas
          pessoas que não gostavam de ir à escola, às vezes, imploram para voltar! Começámos o confinamento
          sendo uma pessoa e acabamos o confinamento completamente diferentes, pois ficar em casa vinte e
          quatro horas por dia com a família (coisa que não é muito fácil) faz-nos refletir sobre muita coisa! Apren-
          demos a dar valor a coisas que considerávamos insignificantes…

             Perante este novo “normal”, todos nós temos o dever de sermos responsáveis e termos consciência
          de que estamos todos juntos nisto e queremos todos o mesmo: derrotar este nosso inimigo comum (a
          covid-19)! Mas, para o conseguirmos fazer, temos todos de cumprir o nosso dever, mesmo que isso im-
          plique ficarmos sem a nossa “liberdade”, para que futuramente todos nós possamos sair e ir beber uma
          “jola” ao café da esquina e, claro, suspirar de alívio por tudo ter acabado.
                                                                                     Inês Santos, n.º 9, 11.º LH2



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