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Sonhar É Agir
A 1 de dezembro de 1934, Fernando Pessoa publica Mensagem, uma obra épico-lírica. O contexto
político-cultural em que o livro foi lançado insere-se no Estado Novo, um regime político ditatorial co-
mandado por António de Oliveira Salazar. Tendo em conta estas circunstâncias, um dos objetivos da
obra é plantar nos portugueses o espírito de iniciativa. Esta reflexão crítica focar-se-á na razão pela qual
Fernando Pessoa quis despertar a vontade de sonhar e agir no povo português, por isso a abordagem
será feita a partir da análise e exposição de um pensamento crítico sobre os valores, temas e ideais de
alguns dos poemas da obra.
Mensagem está dividida em três partes: “Brasão”, “Mar Português” e o “O Encoberto”. A primeira parte é
relativa à origem da identidade de Portugal, abrangendo temas como a delimitação do território, a cultu-
ra e a economia. A segunda parte refere-se à expansão marítima do império português, bem como à
exaltação do processo de autoconhecimento que derivou dessa viagem. Por fim, a terceira parte da
obra relaciona-se com a expressão do desejo e ambição de construir O Quinto Império. Ou seja, em “O
Encoberto” é manifestada, de uma maneira enigmática e misteriosa, a utopia de Fernando Pessoa de
construir um império civilizacional, cultural, espiritual e de conhecimento.
Abordando alguns dos poemas estudados em aula, tentaremos desmistificar certos valores incutidos na
obra. Num dos poemas analisados, “D. Sebastião, Rei De Portugal”, localizado na primeira parte da
obra, são destacadas as seguintes ideias: a audácia de sonhar, incentivo aos portugueses para agirem
e concretizarem o projeto sonhado e, por fim, o abandono da perspetiva sebastianista tradicional. O pri-
meiro ideal pode ser representado pelo primeiro verso do poema referido: Louco, sim, louco, porque
quis grandeza, que tem como valor semântico a confirmação da capacidade de sonhar do sujeito poéti-
co e de D. Sebastião, que pensou mais além e foi em busca de grandeza. O mesmo ideal pode ser en-
contrado no primeiro verso do poema “O Infante”, da Parte II da obra: Deus quer, o homem sonha, a
obra nasce. Aqui, mais uma vez, é exposta a ideia de que a capacidade humana de sonhar é condição
necessária para a concretização de algo belo e divino. Retomando o poema “D. Sebastião, Rei De Por-
tugal”, destacam-se os versos seis e sete: Minha loucura, outros que me a tomem / Com o que nela ia,
onde é referido o ideal do incentivo aos portugueses para agirem e concretizarem o projeto sonhado,
pois é dada a ideia de que o sujeito poético quer passar a sua “loucura” - capacidade de sonhar - às ge-
rações futuras para que essas possam realizar o sonho, o projeto. Este ideal é conciliado com o propó-
sito de Mensagem de transferir para os portugueses o desejo de ter a missão de construir a utopia de-
senhada por Pessoa. No poema “O Quinto Império”, da terceira parte da obra, é evidenciada esta mes-
ma ideia, a partir da crítica às pessoas que se limitam a contentar-se com a vida que levam, sem ter
qualquer tipo de ambições. Esta ilação foi retirada dos dois primeiros versos deste poema: Triste de
quem vive em casa, / Contente com o seu lar. A mesma crítica é feita no poema “Nevoeiro”, Parte III,
pois no verso sete: Ninguém sabe que coisa quer, é sugerida a ideia de apatia e imobilidade social.
Finalmente, a última temática que destacámos no poema “D. Sebastião, Rei De Portugal”, referente ao
abandono da perspetiva sebastianista tradicional, encontra-se visível no segundo verso deste poema:
Qual a Sorte a não dá. Deste verso é retirada a ideia de que o destino não oferece grandeza por si só, é
necessária a ação humana. Os portugueses não podem ficar à espera que um herói os venha salvar,
eles têm que se salvar a si mesmos. No poema “Nevoeiro” é dado um incentivo final aos portugueses da
época de Pessoa para se transformarem a si mesmos. Este incentivo encontra-se no verso catorze: É a
Hora! A mudança daí decorrente poderá dar início à construção de um sonho, ideal de civilização que
Fernando Pessoa designa como O Quinto Império.
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