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Uma obra do passado, presente e futuro


             Mensagem é o mais célebre dos livros do poeta português Fernando Pessoa e o único que ele publi-

         cou em vida (em 1934, quase um ano antes da sua morte). Esta obra de natureza épico-lírico-dramático,
         composta por quarenta e quatro poemas é dividida em três partes, nomeadamente, “Brasão”, no qual se
         apresenta o nascimento da pátria, juntamente com referências aos diversos heróis fundadores converti-
         dos em símbolos; “Mar Português” referencia a realização da pátria através da luta e desvendamento dos
         mares desconhecidos por parte dos portugueses; “O Encoberto” na qual se representa a morte da pátria,
         devido à morte das energias de Portugal, assim como da sua vontade e força para agir, resultando num
         apelo e ânsia pela concretização do Quinto Império, espiritual.
         Esta obra surge no século XX, uma época de degeneração nacional, devido à queda da República e im-
         plantação do regime ditatorial salazarista. Estas mudanças provocam uma enorme insatisfação no povo
         português, especialmente em Fernando Pessoa, que, acumulando todo o seu desconforto para com o
         estado do país, produz a obra na qual implementou o seu sonho de um Portugal grandioso e orgulhoso
         como foi em tempos, mas desta vez, possuidor de uma riqueza imaterial, mais importante do que qual-
         quer posse física: a cultura portuguesa, a língua, o orgulho em ser português e em toda a História de
         Portugal.

         No poema “ O Quinto Império” é visível a ideia do poder que o sonho alberga. Na estrutura interna do
         poema surgem duas divisões possíveis, em que logo na primeira parte, nas estrofes um e dois, o sujeito
         poético faz a apologia do sonho como a única forma de conseguir obter grandes feitos, e nas estrofes um
         a três é possível também verificar uma reflexão sobre a vivência do Homem e o impacto do sonho. Nesta
         primeira parte é visível a revelação da «felicidade», em que o sujeito poético acaba por criticar a socieda-
         de portuguesa, a qual vive a vida de forma banal, sem princípios ou com princípios básicos pouco desen-
         volvidos, Contente com o seu lar,/ Sem que um sonho, no erguer de asa,/ Faça até a mais rubra a brasa /
         da lareira a abandonar!, logo após a primeira estrofe do poema é percetível a referência a uma vivência
         humana que se limita a sobreviver cada dia, Vive porque a vida dura.

         Para além da sobrevivência de cada dia, na terceira estrofe do poema existe um desagrado e uma insa-
         tisfação, na qual a necessidade de mudança é maior, porém, o indivíduo que se contenta com pouco ou
         quase nada não tem necessidade de mudar, mas esses indivíduos não são os verdadeiros Homens, por-
         que o que distingue um de outro nada mais é que a capacidade de sonhar/imaginar e lutar pelos seus
         ideias. Assim, o mundo avança a partir do descontentamento, em que os desagrados e a insatisfação
         são os verdadeiros impulsionadores da mudança.

         A segunda divisão verifica-se nas estrofes quatro e cinco do poema, em que estas evidenciam a divulga-
         ção de um novo Império, neste caso um Império diferente dos demais, concebido espiritual e imaterial-
         mente.
         Assim, quem Vive porque a vida dura não a aproveita e limita-se a existir, a sobreviver. Esta aceitação da

         vida segundo os instintos conduz à morte do indivíduo porque a vida digna de ser vivida é a orientada
         pelos sonhos, pela viagem em direção a horizontes inexplorados, pela vitória sobre o Mostrengo porque
         Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor (“Mar Português”).
         No fim de Mensagem, mais precisamente no poema “Nevoeiro”, existe um apelo para a mudança no pen-
         samento dos portugueses, para a iniciação de uma nova era, ou seja, para os portugueses tomarem par-
         te ativa nesta mudança. Esta nova era é referente ao começo do Quinto Império, um Império imaterial e
         espiritual, isso vê-se quando o sujeito poético afirma, Ó Portugal hoje és nevoeiro … / É a Hora!.


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