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Última sessão da Comunidade de Leitores da ESMAVC
A finalizar as suas atividades, no presente ano letivo, a Comunidade de Leitores da ESMAVC reali-
zou uma sessão, por videoconferência, no passado dia 14 de julho, sobre o livro Viagem à Volta do
Meu Quarto, de Xavier de Maistre, apresentado pela Professora Teresa Amaro que partilha com a co-
munidade educativa o seu texto de apresentação.
Dia 15 de março de 2020, no primeiro confinamento, sem se saber quando ocorreria o regresso a
quase tudo o que preenchia a nossa vida quotidiana.
Acordar e não poder sair.
Procuro, entre a curta distância do sofá e as estantes do corredor, algo que me faça parecer um dia
normal, uma semana normal, uma vivência normal.
A azul – entre a segunda e a terceira fila de livros... sim... já há uma terceira fila, o azul da capa,
(alinhado na secção dos dias vindouros ou da reforma pensada, enfim, para o futuro) – Viagem à Volta
do meu quarto parece-me profético presente. Olha-me e sussurra um "leva-me". Identifico-me com o
título, sorrio, o tempo perfeito para o imperfeito tempo. Quero viajar por ele e com ele. Em tempos de
não podermos exercer a nossa vontade e o controlo habitual, que prazer poder selecionar e decidir!
Encosto-me e inicio a leitura.
Na distância que se alarga e aumenta entre as minhas quatro paredes saio do sofá, visito o "outro
quarto", estabeleço o diálogo com o outro que há muitos anos o escreveu, certamente para mim – é a
maior "mentira verdade" do leitor –, nessa comunhão que torna a paixão dos leitores universal e única.
A minha cabeça afunda-se nas linhas e o pensamento instala-se no pormenor, na descrição, tão
discretamente quanto o autor se senta ao meu lado no mesmo sofá, na mesma sala.
Esqueço-me e lembro-me e, o que me é habitual passa a ser extraordinário e o dual a ser uno.
O corpo aguarda que a "alma" a ele regresse; Xavier de Maistre só podia ter-me conhecido neste
"roupão de viagem" por partilhar com ele o conforto da casa e lhe ter aberto a porta.
Naquele dia o futuro era mais incógnito que o habitual e a morte instalava-se em números pavoro-
sos, saltando do ecrã, varrendo a tranquilidade com que caminhávamos convictos e orgulhosos no
século XXI, com a palavra Pandemia "arrumada" na História.
E, duas horas depois, o meu quarto viajou de mim e eu dele.
Que mais se pode esperar de um livro e da sua leitura?
A resposta possível é: partilhá-lo com outros viajantes amantes das palavras, nessa circumnavega-
ção à volta de nós, com o retorno enriquecido com o que deixámos de ter e passamos a ser do(s) outro
(s).
Teresa Amaro
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