Page 14 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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atribuído no momento do seu nascimento. Sendo assim, o termo
“transexual” pode ser utilizado para homens ou mulheres transe-
xuais. Outra diferença entre travestis e transexuais é encontrada
dentro da esfera econômico-social; uma travesti é comumente mais
marginalizada dentro da sociedade atual, e, apesar da expressão
feminina, isso não confere unanimidade às identidades de gênero
adotadas pelas travestis: há as que se identificam como mulheres,
um terceiro gênero, e até como homens homossexuais.
Travestis fazem parte do imaginário da nossa sociedade há
séculos. A curiosidade sobre seus corpos, a confusão e a falta de
informação fazem delas as pessoas que mais sofrem preconceito
e são marginalizadas, até mesmo entre a população LGBTQIA+.
Essa mesma curiosidade também leva esses indivíduos a serem mais
explorados pelo sistema de prostituição. O preconceito, a baixa
escolaridade e a precarização das relações sociais também são fato-
res que as arrastam para subempregos. Conforme levantamento da
Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), mais de
90% das travestis brasileiras viviam unicamente da prostituição,
em 2017. Essa relação entre o preconceito e o desejo sobre o corpo
travesti perdura até hoje: uma pesquisa do site RedTube mostra
que o Brasil é o país que mais procura pornografia com travestis
no mundo, e, segundo a ONG Transgender Europe, somos o país
que mais mata essa população. Os dois levantamentos são de 2018.
A repressão à população travesti é tão antiga quanto a sua exis-
tência em nossa sociedade. A ditadura militar brasileira foi um
período que marcou uma verdadeira caçada a essa classe. O acon-
tecimento chave explorado neste livro, a “Operação Tarântula”,
porém, nasce logo após o processo de redemocratização do Brasil,
na cidade São Paulo, em 1987, ainda com fortes resquícios da
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