Page 212 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
P. 212
Era também com León Tiithee que Jacques, desde que conversara com
Isabeau por telefone e decidira vir se encontrar com ela, estava mantendo
frequente comunicação para saber aonde ir e com quem deveria falar.
Ele estava perfeitamente a par da atual situação de Cesar, já livre dos
aparelhos, mas ainda mergulhado no misterioso e profundo estado de coma.
Isabeau nunca se lembraria com clareza do que dissera para Jacques naquele
primeiro encontro após quase quatro anos sem vê-lo, se é que ela dissera
alguma coisa. Lembrava-se de haver pensado que ele envelhecera, não um
envelhecimento físico, pois ele continuava o homem no auge da sua forma,
exatamente como ela o conhecera, mas ela percebeu com clareza seu
envelhecimento interior. Tratava-se de uma transformação muito profunda e
íntima, que se mostrava na sua fisionomia. Eram as marcas da vivência e do
amadurecimento da alma. E a serenidade e a calma no olhar e no falar
transmitiam um equilíbrio adquirido com a vida, com o passar e a experiência
dos anos, com o fato de ser plenamente e ser íntegro.
Achou-o belo como sempre, mas mesmo a beleza dele estava mudada. Ainda
havia a masculinidade evidente, à flor da pele, mas agora não havia mais
agressividade ou impetuosidade, apenas uma força tranquila.
Ele reparou que ela cortara os cabelos, que as madeixas, louro avermelhadas,
não lhe envolviam mais os ombros caindo até abaixo da cintura e fez para ela
um cumprimento qualquer, do qual ela também não se lembrava porque não
eram as palavras tão ardentemente desejadas. Apenas palavras educadas,
fórmulas de cortesia, do bom convívio, que o colocavam tão distante dela...
Quando finalmente um dos médicos que atendia Cesar chegou para a visita
diária e para a entrevista com a família do doente, foi Jacques quem dominou
a conversa, fez as perguntas, assinalou as sugestões e indagou sobre um
prognóstico visando a possibilidade de transferi-lo para casa.