Page 214 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Pararam em frente ao prédio que era quase uma antiguidade. Restaurado
para abrigar pequenos e poucos apartamentos, todos cuidadosamente
arrumados e decorados, atendendo as exigências dos ilustres moradores.
Ali Cesar morava em uma cobertura que era um primor de luxo e elegância e
onde agora, Isabeau também vivia, há pouco mais de um ano.
Antes dela sair do carro, Jacques estendeu-lhe um cartão com o endereço e o
telefone do hotel onde ele se hospedara, para ela poder contatá-lo a qualquer
momento, não importando a hora. Ao receber o cartão das mãos dele, seus
dedos se tocaram levemente e Isabeau se sentiu percorrida por uma descarga
elétrica que Jacques nem ao menos notou.
Já em casa, Isabeau permitiu finalmente que as lágrimas corressem
livremente.
A suspeita que se insinuara em sua mente e em seu coração, de que Jacques
usara a relação deles para conquistar a posição ambicionada como cientista
pesquisador, era como um veneno elaborado no âmago da sua psique. E se
traduzia pelo seu famoso sentimento de inadequação que confirmava o
sentimento de abandono dela e o justificava, uma vez que alguém tão
inadequada não mereceria ser verdadeiramente amada. Tratava-se de um
mecanismo psíquico cruel que a dominava apesar de toda sua inteligência e
sua força. Que fora muito bem compreendido por seu ex-marido. Uma
armadilha psíquica que estava por trás da sua fuga de Terra Alta ao se sentir
abandonada por Jacques. Silviano Roubéins falara-lhe sobre isso e
reconhecendo a justeza da análise ela o deixara.
De Silviano, do curto tempo que durou seu casamento, Isabeau mantivera
apenas a doçura com que ele sempre a tratara e a lembrança da tristeza dos
meigos olhos azuis que a fitaram magoados quando ele se curvou para beijar-
lhe as mãos num adeus, que ambos sabiam definitivo.