Page 36 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Os olhos da raposa confirmavam a certeza anterior de que o amigo estava
bem. De que nada havia a temer. Mas, um sentido muito mais sensível revelou
um mistério além da sua capacidade de compreensão. Foi impossível para
Loop definir o que a estava deixando desconfiada e inquieta.
O puma, por sua vez, sentiu imediatamente o desassossego da raposa e pôs os
sentidos alerta. Convenceu-se de que muito embora seus penetrantes olhos
âmbar não pudessem enxergar mais ninguém ao lado da figura de Loop, lá no
alto, dentro do ângulo de visão que englobava o platô rochoso em frente à
entrada da caverna e o majestoso monólito que se erguia soberano,
dominando parte da visão do horizonte, ali, havia, indiscutivelmente, mais
alguém.
Invisível, misteriosamente camuflado à paisagem de rochas e nuvens e
pequenas ervas rasteiras, havia uma presença tão real quanto qualquer dos
elementos que lhes eram visíveis e palpáveis. Impossível de ser espreitado,
farejado ou compreendido e, no entanto, ao alcance de um bote.
César, o ser detectado pela finíssima capacidade perceptiva dos animais,
também não via a si mesmo, pousado, imóvel, sobre o monólito vermelho, em
sua condição extraordinária de espírito invisível. Exatamente em frente ao
platô de pedra da caverna em que Loop e Mahoo habitavam.
Ficaram assim, a raposa e o puma, imobilizados por um longo momento,
olhando sem nada enxergar, diretamente para o lugar em que pairava a forma
etérea de Cesar Astu Ninan.
Sobre o ser diáfano de Cesar fixaram-se dois pares de olhos penetrantes
devassando o ar silencioso e tentando compreender como a presença
indiscutível não podia ser vista, ouvida ou farejada.
Finalmente, com suprema cautela, rosnando baixinho, a raposa moveu-se
para trás sem se voltar e sem desviar os olhos do lugar suspeito por um