Page 97 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Cesar estava em pé, meio encostado numa das estantes cobertas de livros, ao
lado de um janelão que, completamente aberto, deixava ver ao fundo o jardim
com árvores tão abundantes e frondosas que fazia pensar imediatamente num
parque.
O entardecer estava começando a adotar o tom azul escuro dos inícios das
noites, não haveria luar e o anuncio da primavera vinha com o trinar dos
grilos. O ar estava morno. Victor não o viu de imediato, mais o percebeu, como
certamente devem ser percebidas as presenças meio diáfanas de seres ainda
não totalmente encarnados. Foi como se Cesar se revelasse aos poucos e, no
entanto, ele não fizera nada intencional para causar este efeito. Era só sua
maneira natural de ser naquela época de menino retraído, esquivo e solitário.
Esta percepção, que Victor custou a aceitar como verídica, foi confirmada
pelo jeito meio encurvado da figura muito alta e muito magra para os seus
dez, quase onze anos. Victor ficou admirado pelo rosto profundamente
expressivo, principalmente pelos olhos maravilhosos, muito amendoados,
grandes e negros com enormes cílios curvados, parecendo úmidos, o que fez
Victor se perguntar se ele teria chorado. Eram olhos infinitamente tristes, mas
que uma curiosidade quase insuportável obrigava a fixar com interesse a tudo
e a todos.
Subitamente Victor não soube o que falar. Uma situação a qual ele não estava
habituado.
Cesar forçou-se a um sorriso tímido, mas os olhos não sorriram. “__ Sei quem
você é.” Declarou ele finalmente parecendo satisfeito por poder mostrar sua
perspicácia. Victor sorriu também e observou-o. Colocou os braços para trás
adotando uma postura que lhe era cômoda sempre que pretendia usar toda
sua atenção.
Poderia ter dito que ele, Victor, também sabia quem era seu interlocutor, mas
preferiu deixar que o menino exibisse sua esperteza. Perguntou. “__ E como
você sabe?” Mas Cesar não respondeu a pergunta. Franziu um pouquinho a