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É necessário demonstrar que todas as construções do mundo são
       antropomorfismos: sim, todas as ciências, se Kant tiver razão. Dizendo a
       verdade, há aqui um círculo vicioso: se as ciências têm razão, não levamos
       em conta os princípios de Kant; se Kant tem razão, as ciências não a têm.

              Contra Kant, há sempre a objetar que, para admitir todas as suas
       teses, subsiste a plena possibilidade que o mundo seja tal como nos
       aparece. De um ponto de vista pessoal, esta posição inteira é inutilizável;
       ninguém pode viver nesse ceticismo. .

              Devemos ultrapassar esse ceticismo, devemos esquecê-lo. Quantas
       coisas não devemos esquecer neste mundo! (A arte, a forma ideal, o
       temperamento.)

              Não é no conhecimento, é na criação que está nossa salvação! Na
       aparência suprema, na emoção mais nobre está nossa grandeza! Se o
       universo não nos diz respeito em nada, queremos então ter o direito de
       desprezá-lo.


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              Temível solidão do último filósofo! A natureza o assombra, abutres
       planam por cima dele. E ele grita à natureza: dá o esquecimento! Esquecer!
       — Não, ele suporta o sofrimento como Titã — até que o perdão lhe seja
       concedido na arte trágica suprema.


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              Considerar "o espírito", o produto do cérebro, como sobrenatural!
       Deificá-lo totalmente, que loucura!

              Entre milhões de mundos em corrupção, uma vez um mundo
       possível!

              Esse também se corrompe! Não foi o primeiro.
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