Page 13 - Leandro Rei da Helíria
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Cena V
                                                 Violeta e Príncipe Reginaldo
                             (No jardim do palácio Violeta está sozinha, passeia, colhe flores. Canta)

                                                Meu pai diz que sou a flor
                                                mais bela do seu jardim,
                                                e que me tem muito amor
                                                — e eu digo sempre que sim.
                                                Meu pai diz que a minha pele
                                                é mais clara que o marfim,
                                                que o meu sorriso é de mel
                                                — e eu digo sempre que sim.
                                                Meu pai diz que dos meus dedos
                                                nasce o cheiro do jasmim,
                                                que é por mim que o sol vem cedo
                                                — e eu digo sempre que sim.
                                                Mas se um dia, de repente,
                                                se turvar seu coração?
                                                Se tudo ficar diferente
                                                e eu tiver que dizer não?


                  PRÍNCIPE REGINALDO (chama, baixinho): Violeta! Violeta!

                  VIOLETA (olhando em volta): Quem me chama?

                  PRÍNCIPE REGINALDO: Sou eu, Violeta, estou aqui mesmo!...

                  VIOLETA: Que voz é esta que parece ir direitinha ao meu coração?


                  PRÍNCIPE REGINALDO (aparecendo): Aqui me tendes, senhora! Reginaldo, para vos servir!

                  VIOLETA (rindo): Que susto vós me pregastes! Isso não é bonito, Príncipe Reginaldo!

                  PRÍNCIPE REGINALDO: O que é que não é bonito?

                  VIOLETA: Andar pelos jardins a uma hora destas, a assustar uma pobre donzela indefesa...

                  PRÍNCIPE REGINALDO (rindo): Que a pobre donzela indefesa me desculpe, mas o que aqui me traz
                  é urgente: sabeis se vosso pai já terá finalmente consentido no nosso casamento?


                  VIOLETA: Ora... Meu pai julga que eu ainda sou a menina pequena que ele um dia embalou no
                  berço... Neste momento pensa apenas no casamento de minhas irmãs, e nem sequer se lembra que
                  vós  estais  há  tanto  tempo  à  espera  de  uma  palavra  sua. Tenho  muito  amor  a  meu  pai,  Príncipe
                  Reginaldo, e não quero causar-lhe desgosto algum. Só por isso não insisti hoje com ele para que, ao
                  menos,  vos  recebesse.  Sinto  que alguma  coisa  o  perturba  neste  momento.  Por  isso  não  quero
                  perturbá-lo ainda mais. Teremos de ter paciência, e de esperar mais uns dias.

                  PRÍNCIPE REGINALDO: Seria capaz de esperar por vós a vida inteira, se necessário fosse!


                  VIOLETA (sorrindo): A vida inteira é muito tempo, Príncipe Reginaldo! Que graça tinha casar velha,
                  cheia de rugas, desdentada...
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