Page 8 - Leandro Rei da Helíria
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BOBO:... «para os sorrisinhos de sonsa que ela manda para cima de toda a gente», dizia ela...
(As duas irmãs conseguem soltar-se dos braços das aias e andam à bulha uma com a outra,
insultando-se mutuamente, enquanto o rei tenta apartá-las)
REI: Então, minhas flores, que triste espetáculo estais a dar! Imaginai que vossos noivos entravam
agora aqui e vos viam. Que iriam eles dizer?
AMARÍLIS: Iriam decerto ordenar que este maldito bobo fosse metido a ferros na mais escura
masmorra deste castelo!
HORTÊNSIA: Iriam decerto exigir explicações de Amarílis!
AMARÍLIS: Ora, minha irmã! Tem juízo! Estás a dar ouvidos a balelas de um louco que só mesmo a
grande bondade de nosso pai mantém nesta casa... Quando me casar, bobo assim não entra no meu
palácio! Antes morrer de tédio a vida inteira!
REI: Ora vá, fazei as pazes, que eu não gosto de ver as minhas flores assim tão alteradas.
Cena III
Os mesmos mais Violeta
VIOLETA: Mas que barulheira infernal! Que vem a ser isto?
BOBO (voltando-se para a plateia, canta):
Que lhe hei de chamar? Berrata?
bulha? inveja? zaragata?
tareia? surra? bravata
entre duas castelãs?
Antes que venha a chibata,
vou dizer que é... serenata,
e que isto é amor de irmãs!...
VIOLETA: Estava eu a tocar o meu alaúde quando, de repente, o barulho foi tanto, que parecia que
tinha rebentado uma tempestade!
HORTÊNSIA: Vai, vai tocar o teu alaúde, que a conversa não é contigo...
AMARÍLIS: Foi apenas uma breve troca de palavras em tom mais elevado. Não te importes, são
coisas de gente crescida...
VIOLETA: Que mania a vossa de ainda me considerarem uma criança! (Virando-se para o pai) Pois
não é verdade, meu pai, que o Príncipe Reginaldo chegou ao nosso reino há uma semana para pedir
a minha mão?
REI (aborrecido): Falemos de outros assuntos...