Page 17 - Leandro Rei da Helíria
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PRÍNCIPE  REGINALDO:  De  muitas  riquezas  ouvi  falar,  senhores,  mas  nenhum  de  vós falou  em
                  amor!

                  PRÍNCIPE FELIZARDO: Amor? Mas o que é que tem o amor a ver com isto?

                  PRÍNCIPE REGINALDO: Um casamento só se faz quando há amor, muito amor!


                  PRÍNCIPE FELIZARDO: Um casamento só se faz quando há (tirando o rolo do bolso) «256 bois, 256
                  vacas...»

                  PRÍNCIPE REGINALDO (interrompendo): Já sei, já sei, ouvi há pouco a lengalenga toda. Pois sabei:
                  a minha Violeta terá o meu coração inteiro, e isso é riqueza bem maior do que os vossos bens todos
                  juntos!

                  PRÍNCIPE FELIZARDO: Maior do que... (Volta a tirar o rolo) «... 256 bois, 256 vacas, 8000...»


                  PRÍNCIPE REGINALDO (interrompendo): Muito maior!

                  PRÍNCIPE FELIZARDO: E o que é que a gente faz com um coração?

                  PRÍNCIPE SIMPLÍCIO: Tiraste-me as palavras da boca!

                  PRÍNCIPE REGINALDO: Com um coração trazemos as pessoas que amamos para dentro de nós

                  próprios, e é através dos seus olhos que vemos o mundo, e é através dos seus ouvidos que ouvimos
                  o cantar das aves e das ondas do mar, e é através das suas mãos que sentimos a suavidade do linho
                  ou da areia das praias...

                  PRÍNCIPE FELIZARDO: Ui, isso deve fazer cá uma impressão danada...

                  PRÍNCIPE SIMPLÍCIO: Tiraste-me as palavras da boca!

                  PRÍNCIPE FELIZARDO: Ah, mas ainda não ouvistes tudo! Por cada filho que a minha Amarílis me
                  der, ofereço-lhe, ora deixa cá ver, Felizardo... (Tira o rolo de papel da algibeira)... vinte lingotes de
                  ouro maciço! É obra, ha?


                  PRÍNCIPE REGINALDO: Pois a minha amada Violeta receberá, por cada filho que me der, ainda
                  mais amor, e toda a minha gratidão.

                  PRÍNCIPE FELIZARDO: Gratidão? Palavra estranha...

                  PRÍNCIPE SIMPLÍCIO: Tiraste-me as palavras da boca!

                  PRÍNCIPE REGINALDO: É palavra que deve sempre andar ligada ao amor pois, sem ele, não faz
                  sentido nenhum. Assim me ensinaram meus pais e meus avós, e assim ensinarei aos filhos e netos
                  que um dia tiver.


                  PRÍNCIPE FELIZARDO: Cá os meus pais ensinaram--me a somar dois e dois, e mais do que isso
                  nunca precisei de saber.



                                                          Cena VIII
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