Page 21 - Leandro Rei da Helíria
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PRÍNCIPE FELIZARDO (para Simplício): Primo... quê? (Simplício encolhe os ombros)
REI:... e dizei-me de vosso amor por mim!
AMARÍLIS (ajoelha diante do rei): Meu senhor, o meu coração é pequeno de mais para conter todo
o amor que vos tenho. Quero-vos muito mais do que ao Sol que me alumia, muito mais que à luz dos
meus próprios olhos, muito mais que ao marido que vou desposar...
PRÍNCIPE FELIZARDO (para Simplício): Aquilo é comigo, ó sócio? (Simplício diz que não com a
cabeça, o outro fica mais sossegado)
REI: Vinde até aqui, Hortênsia, minha filha do meio, e dizei-me de vosso amor.
HORTÊNSIA: Senhor, as palavras são poucas para vos falar de tão grande amor. Seria necessário
inventar palavras novas para com rigor eu poder definir o que o meu coração sente por vós. Pedi-me
que morra por vós, e eu alegremente o farei, pedi-me que vos dê meus olhos, meus braços, fígado
ou coração, e tudo vos darei. O meu amor por vós não tem fim, é maior que a imensidão das águas
e dos céus. Quero-vos mais do que a mim própria, muito mais do que ao ar que respiro, mais do que
ao sangue que corre nas minhas veias.
PRÍNCIPE FELIZARDO (para Simplício): Não será exagero? (O outro diz que não com a cabeça)
REI: Vinde até aqui, Violeta, minha filha mais nova, e dizei-me de vosso amor por mim!
VIOLETA: Meu senhor, não sei falar como minhas irmãs. Sei apenas que sou vossa filha, e que todas
as filhas devem amar seus pais. Sei como é difícil para mim pensar no dia em que irei viver longe de
vós. Quando eu era muito pequenina e tinha pesadelos, vós estáveis sempre à beira do meu leito.
Pelo Inverno, quando o vento soprava e as febres atacavam o meu corpo frágil, éreis vós, senhor,
que eu via a meu lado até conseguir acalmar. De tudo me lembro, e tudo o meu coração guarda com
a gratidão que todas as filhas devem sentir pelos pais. Mais não consigo dizer.
REI: Mas Amarílis disse que me quer mais do que ao Sol, Hortênsia disse que me quer mais do que
ao ar... e vós? Qual é a medida do vosso amor por mim?
VIOLETA: Não sei, senhor. O que não tem fim não se pode medir. É difícil encontrar medida para o
amor.
REI (zangado): Elas encontraram! Tereis de a encontrar também!
VIOLETA: Preciso muito de vós, senhor!
REI (zangado): Não chega!
VIOLETA: Preciso de vós como...
REI:... como?
VIOLETA:... como... como a comida precisa do sal. (Vozes de espanto)
REI (muito zangado): Estais a querer dizer que me quereis...