Page 22 - Leandro Rei da Helíria
P. 22
VIOLETA: Como a comida quer ao sal.
REI (apoplético): O sal?! Como a comida...
VIOLETA:... quer ao sal.
REI: Estareis louca? Ou serei eu que, de repente, terei enlouquecido? Ousais comparar-me ao sal?!
VIOLETA: Mas, senhor...
REI: É essa a paga de todos estes anos de amor? É essa a paga das muitas horas que perdi junto
ao vosso leito, acalmando os vossos pesadelos?... Oh, deuses, isto é que é um pesadelo, um
verdadeiro pesadelo!
VIOLETA: Mas o sal é um bem precioso, senhor, sem ele não podemos viver...
REI: Calai-vos! Nem mais uma palavra! Nunca mais quero ver o vosso rosto, nunca mais quero ouvir
nem o mais leve som dos vossos passos! Vou esquecer que um dia tive uma filha com o vosso nome!
(Levanta-se, cambaleando, e chama:) Escrivão!
Cena XI
Todos mais Escrivão
ESCRIVÃO: Aqui estou, senhor!
REI: Escrevei então: que a partir de hoje ninguém neste reino ouse pronunciar o nome de Violeta, sob
pena de ser levado à forca; que a partir de hoje Violeta seja banida deste reino, e a ele nunca mais
possa voltar; que saia imediatamente do nosso castelo, sem levar nem tostão, nem manto, nem fita
para o cabelo: irá tal qual está, e isso já é por grande bondade nossa. Que morra à fome ou à sede,
que se esvaia em sangue nos tojos e nos cardos do caminho, que se perca nas florestas ou
montanhas, nada disso me interessa. A partir deste momento tenho apenas duas filhas: Amarílis e
Hortênsia.
VIOLETA: Mas, meu pai, eu amo-vos!
REI: Calai-vos, ingrata! Desaparecei da minha vista (Para o escrivão) Vai fazer cumprir as minhas
ordens! E já!
ESCRIVÃO: Sim, senhor. (Vai a sair, mas o rei volta a chamá-lo)
REI: Ainda uma outra coisa, escrivão!
ESCRIVÃO: Dizei, senhor.
REI: Que a partir de hoje, nem mais uma violeta seja plantada nos jardins deste reino. Nem mais uma,
ouves bem o que te digo?
ESCRIVÃO: Sim, senhor. (Sai) (Príncipe Reginaldo sai do lugar onde estava e coloca-se diante do
rei)