Page 26 - Leandro Rei da Helíria
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— que mais podia querer
uma pessoa?
BOBO (em contraponto):
Deste o reino, deste o manto,
deste o ceptro, deste a coroa
às filhas do teu encanto
— como pode ser tão louca uma pessoa?
REI: Agora só tenho um bobo, um cajado e meia broa, estou cego, cansado, roto — que mais pode
aguentar uma pessoa?
BOBO:
Agora só tens um bobo,
e é ele que te arranja a broa!
Assim estás por tua culpa
— como pode ser tão louca uma pessoa?
BOBO (ainda para a assistência): Às vezes olho para ele e não sei se o meu coração se enche de
uma pena imensa ou de uma raiva sem limites...
REI: Que, resmungas tu?
BOBO: Nada, senhor, falava com as pedras do caminho...
REI: E bem duras são elas...
BOBO: Pois são, mas vamos depressa que, ou muito me engano, ou vem aí tempestade da grossa!
Abriguemo-nos nesta gruta.
(Entram para a gruta)
Cena II
Os mesmos mais Pastor
PASTOR: Quem vem lá?
REI (imponente): Nada temais! Sou Leandro, o rei da Helíria!
PASTOR (rindo): Pois eu sou o Rei de Copas! Ah! Ah! Entrai, entrai no meu palácio, que estais entre
iguais! Ah! Ah! Ah! E isto foi o que sobrou do meu último banquete! (Estende-lhe um bocado de pão.
Olha-o de frente e recua, muito surpreendido, murmurando) A cor dos olhos... O tamanho das
barbas... O porte altivo...