Page 17 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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tencionava fazer —, cortam então as amarras das caravelas, tentando assim
fazê-las dar à costa!
Os Portugueses perceberam logo a maldade, mas nem tiveram tempo de
castigá-la, tão depressa os Mouros rugiram ao sentir-se descobertos.
Era a última traição, última e inútil, daqueles torpes Infiéis!
A caminho da terra hospitaleira, proas ovantes, as naus lusitanas, cortando
a espuma das ondas, foram vogando então para a terra anunciada por
Mercúrio...
Em dois navios tomados no caminho, e tripulados por Mouros menos
ferozes que os de Mombaça, Vasco da Gama encontrou, não quem lhe
ensinasse a direção da índia, mas informação exata sobre o vizinho porto
de Melinde, onde achariam piloto.
Disseram os Mouros que o Rei de Melinde era humano e generoso, como
já a Vasco da Gama o anunciara em sonho o enviado de Júpiter.
E num sábado de Aleluia, quando a Terra e o Mar estão já alegres e bonitos
com o sol da primavera, aportaram as naus lusitanas a Melinde...
São mouros também os habitantes de Melinde, mas não falsos e cruéis,
como os de Mombaça e de Quíloa.
O contentamento deles, ao ver a frota, manifestou-se imediatamente. E o
seu Rei quer e pede que os seus visitantes venham a terra.
Oferece-lhes tudo quanto possui. Envia-lhes para bordo carneiros, galinhas
e frutas, manjares preciosos e boas bebidas.
Vasco da Gama não quer ser vencido em generosidade — em troca dá-lhe
sedas ricas e corais finos, e manda a terra um oficial encarregado de dizer
quem são os Portugueses, o que pretendem, quais as suas intenções
pacíficas, e o seu poder e o seu valor.