Page 19 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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Vasco da Gama acolhe no seu batel, abraçando-o, o Rei amigo.

                  Este queria visitar a frota, e conhecer todas as coisas que os Portugueses


                  traziam, e que ele nunca tinha visto.

                  Sobretudo a artilharia o espantava.

                  Vasco  da  Gama,  certo  de  que  essa  curiosidade  não  ocultava  nenhum

                  propósito malévolo, tudo mostrou, tudo explicou sem receios.

                  Mas  o  maior  desejo  do  Rei  era  saber  principalmente  donde  vinham  os


                  Portugueses, a que país pertenciam, o que tinha feito o seu povo, e que

                  religião seguiam.

                  Certamente — afirmava o Rei — não lhe eram ignorados o nosso nome

                  ilustre e os nossos heroicos feitos na Europa e na África.

                  Mas,  por  isso  mesmo,  vendo  os  Lusitanos  pela  primeira  vez,  maior  se


                  tomava  a  ansiedade  de  conhecer  enfim  a  sua  glória  imensa,  de  que  só

                  possuía noticia vaga e incerta...

                  Vasco da Gama, ancorado o batel em que os dois tinham visitado a frota,

                  de pé diante do Rei e levantando a cabeça altiva, respondeu que só poderia

                  satisfazer essa curiosidade contando a grande e famosa história que é a


                  História de Portugal — a história dos nossos feitos, das nossas conquistas,

                  das nossas grandezas e atos sublimes.

                  Destarte mostraria àquele Rei potente que os Portugueses eram de uma

                  raça  bem  merecedora  de  hospitalidade  e  do  carinho,  que  ele

                  espontaneamente dera aos navegadores e marinheiros de Portugal.


                  O Rei estava cheio de curiosidade. Sentou-se em cadeira doirada, junto dos

                  seus, e preparou-se para escutar a magnífica narração.

                  Orgulhoso por evocar as glórias da sua grei, Vasco da Gama começou então

                  a falar serenamente:

                  «Obedeço, ó Rei, ao teu desejo...»
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