Page 18 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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Tudo isto o oficial da frota explica ao Rei de Melinde. E mais lhe diz que

                  Vasco da Gama não sairá da sua nau — não porque desconfie ou receie dos


                  Melindanos, mas porque é

                  dever do capitão da frota não a abandonar nunca, nem á gente que está

                  sob as suas ordens.

                  O Rei de Melinde ouve afavelmente o oficial português. E acreditando em

                  tudo quanto ele afirma, e louvando a coragem dos Lusitanos que tão longa


                  e difícil viagem fizeram, promete ir visitar a bordo o Capitão ilustre, já que

                  ele não poderá desembarcar — por dever que muito respeita e admira.

                  No dia seguinte, a visita do Rei a bordo fez-se com toda a pompa, mas já a

                  noite fora de grande festa.

                  Na  armada  e  na  terra  houve  fogo  de  artificio,  danças  e  cantos,  que  só


                  terminaram quando o Rei e os nobres vieram de barco saudar Vasco da

                  Gama.

                  Um e outro vestiam fatos riquíssimos e novos — o Rei envolto em luxuosa

                  cabaia de seda, com um grande colar de oiro ao pescoço, e uma adaga na

                  cinta, de aço e oiro bem lavrados.


                  Nos pés, sapatos de veludo, bordados e cobertos, como as próprias vestes,

                  dessas pérolas pequeninas que se chamam aljôfar...

                  Um guarda-sol imenso, também de seda e com haste doirada, protege o Rei

                  dos raios do Sol.

                  No seu batel toca uma bela música à proa, alegremente.


                  E para o receber o grande Vasco da Gama — todo vestido de seda vermelha,

                  com  botões  de  oiro  nas  mangas,  com  as  calças  e  o  gibão  riquíssimo

                  recamados de oiro, espada de oiro, e pluma no gorro — parece outro Rei.

                  Tocam  as  trombetas;  estoiram  as  bombardas,  enchendo  tudo  de  fumo;

                  sobem ao ar vivas e aclamações festivas.
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