Page 214 - As Viagens de Gulliver
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soprar com força.
Ao décimo dia, dois piratas perseguiram-nos e logo nos aprisionaram,
porque o meu navio estava tão carregado que singrava muito lentamente, sendo-
nos por completo impossível manobrar de maneira a nos defender.
Os dois piratas abordaram e entraram no nosso navio à frente dos seus
homens; encontrando-nos, porém, de bruços, como eu ordenara, contentaram-se
em ligar-nos e, fazendo-nos guardar, principiaram a visitar o navio.
Notei entre eles um holandês que parecia ter certa autoridade, conquanto
fosse apenas a do comando. Pelos nossos modos conheceu que éramos ingleses
e, falando-nos na sua língua, disse-nos que nos iam ligar a todos costas com
costas e lançar-nos ao mar. Como eu falasse muito bem holandês, declarei-lhe
quem éramos e solicitei-lhe, em consideração do nome comum de cristãos e de
cristãos reformados, de vizinhos, de aliados, que intercedesse por nós junto do
capitão. As minhas palavras deram apenas como resultado irritá-lo; redobrou as
ameaças e, voltando-se para os companheiros, falou-lhes em língua japonesa,
repetindo amiudadas vezes a palavra cristãos.