Page 59 - As Viagens de Gulliver
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Perto de três semanas depois da minha memorável expedição, chegou de
      Blefuscu uma solene embaixada, trazendo propostas de paz. O tratado em breve
      ficou concluído em condições deveras vantajosas para o imperador de Lilipute. A
      embaixada  era  constituída  por  seis  fidalgos,  com  uma  comitiva  de  quinhentas
      pessoas, e pode dizer-se sem exagero que a sua entrada correspondeu à grandeza
      de seu amo e à importância da negociação.
          Depois de feito o tratado, Suas Excelências, tendo sabido secretamente os
      bons  serviços  que  prestara  ao  país  pelo  modo  por  que  falei  ao  imperador,
      fizeram-me  uma  cerimoniosa  visita.  Principiaram  por  me  fazer  os  maiores
      elogios acerca do meu valor e da minha generosidade, e convidaram-me, em
      nome  de  seu  amo,  para  ir  viver  em  Blefuscu.  Agradeci-lhes  e  pedi-lhes  que
      apresentassem os meus mais humildes respeitos à Sua Majestade blefuscudiana,
      cujas  brilhantes  virtudes  eram  universalmente  conhecidas.  Prometi  visitar  Sua
      Majestade antes de regressar ao meu país.
          Passados  alguns  dias,  pedi  licença  ao  imperador  para  fazer  os  meus
      cumprimentos  ao  grande  soberano  de  Blefuscu;  respondeu-me,  com  a  maior
      frieza,  que  fosse  quando  me  apetecesse.  Esqueci-me  de  dizer  que  os
      embaixadores me haviam falado por intermédio de um intérprete, visto que as
      línguas dos dois países são muito diferentes uma da outra. Qualquer das nações
      gaba a antigüidade, a beleza e a força do seu idioma e despreza o outro.












          No entanto,  o  imperador,  orgulhoso  da vantagem  que  obtivera  sobre os
      Blefuscudianos  pela  tomada  da  sua  esquadra,  obrigou  os  embaixadores  a
      apresentarem  as  suas  credenciais  e  a  fazerem  a  sua  alocução  em  língua
      liliputiana, e, como verdade, seja dito que, em virtude do tráfico e do comércio
      que existem entre os dois países, da recepção mútua dos exilados e do costume
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