Page 62 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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O vidro se fecha, e o carro parte. Jack o observa se afastando. Fica ali
parado por um bom tempo depois que ele desaparece.
Ele se dá conta de que está tremendo de raiva. Teve que usar todo seu
autocontrole para não se enfiar dentro do carro e quebrar o pescoço de
Rigoletto.
Ele estava indo para casa antes de Rigoletto o encontrar. Agora ele volta
para o parque e corre por mais duas horas, tentando queimar a fúria que
borbulha dentro dele.
Não adianta.
• • • •
Matt está em casa quando Jack chega, as roupas encharcadas de suor. Os
músculos trêmulos de fadiga. Matt está sentado na pequena mesa da
cozinha, passando os dedos sobre um livro.
– Oi – diz Matt.
– E aí? Vou tomar banho.
Matt para e vira o rosto na direção de Jack.
– Está tudo bem?
Jack hesita. Não adianta mentir. O garoto consegue captar esse tipo de
coisa agora. Só Deus sabe como.
– Nervoso. Luta importante amanhã.
Matt sorri.
– Você está em boa forma, velho. Vai ganhar.
Jack não diz nada. Ele segue direto para o banheiro e fecha a porta,
encostando-se na tinta descascada. Liga a água quente, espera o vapor
inundar o banheiro. E então entra na banheira e fica parado embaixo do
velho chuveiro, enquanto a água escalda sua pele até deixá-la vermelha.
À mesa do jantar naquela noite, Jack olha fixamente para o filho.
Passaram-se três anos desde o acidente. Três anos desde o dia em que ele
achou que tinha perdido Matt. Ainda consegue se lembrar, mais claramente
do que qualquer outra coisa: o sentimento de mais profundo desamparo. De
ter falhado. De raiva do mundo.