Page 60 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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seguidas. E a próxima luta é grande: no complexo poliesportivo Madison
Square Garden.
Uma chance de provar que ele ainda é bom.
Rigoletto há meses não tem pedido para que Jack faça as rondas de coleta
com Slade. Talvez tenha encontrado um novo capanga. Alguém que goste
mais daquilo.
A velha chama está voltando. O orgulho.
A esperança.
• • • •
De manhã bem cedo, Jack corre no Central Park, observando as mães que
empurram carrinhos de bebê pelas poças de água. Pessoas com cães. Casais
de idosos fazendo a caminhada matinal. Ele gosta dessa hora do dia. Não é
tão cedo para estar escuro, mas é cedo o bastante para que o peso do dia que
está por vir ainda não tenha acabado com o humor e com a felicidade de
todos.
É um breve interlúdio, quando todos podem fingir que são felizes e
normais, e que a vida pode ser promissora.
Jack costumava sentir a mesma coisa. Mas, ultimamente, ele conseguia
carregar essa sensação por todo o dia, conseguia ignorar todo o lixo que a
Cozinha do Inferno atirava sobre ele.
Ele corre pelo caminho. Seus pulmões estão queimando, mas é uma
queimação limpa. Faz com que se sinta bem. Choveu durante a noite. Tudo
está úmido e cinzento. O cheiro de terra molhada está suspenso no ar, um
cheiro que ele ama porque é muito raro. As cores se destacam, profundas e
exuberantes. Os troncos das árvores, a grama, o caminho de concreto, a
própria terra. Escura e pesada. Purificada.
Quinze quilômetros por dia: é o mínimo, se você quer ser um boxeador.
Na TV, eles sempre mostram boxeadores levantando peso, passando o
tempo todo na academia. Mas isso é simplesmente idiota – faz você ficar
musculoso demais. Você precisa de poder. Velocidade. Correr. Pular.
Arrastar pneus. Esse é o melhor treinamento para um boxeador. Sem muita
aparelhagem, mas dá conta do serviço.