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comportamento
AS VIDAS DE
MULHERES
NEGRAS
IMPORTAM
Em Uberaba, mulheres negras denunciam racismo, falta de acesso a
cuidados de saúde e oportunidades, mas revelam suas estratégias de resistência
JORNALISTA JUBA MARIA
“ ita mundo véio sem porteira, que basta um dedo de prosa pra se
chegar assim faceiro, às veiz amargo, às veiz cabreiro e assim vai
tecendo, enredando, se fazendo”, diz a narradora de “Caliandra, a
Eflor mais bela do cerrado”, texto de teatro escrito por Pretta Moreno,
uma das mais destacadas atrizes da Uberaba atual.
Peço, então, licença à Caliandra, representando aqui todas as mulheres
negras, para iniciar esse texto, tecendo falas e enredando histórias, pois a vida
de mulheres negras importa e não podemos aceitar que continuem morrendo
em decorrência de uma estrutura social racista. Apesar dessa consciência, é
preciso dizer que sou uma mulher branca, filha de Vergínia, neta de Antônia,
escrevendo uma matéria sobre mulheres negras, o que é, ao mesmo tempo, um
desafio e uma contradição da qual não pude declinar.
Aceitei o desafio sob a condição de situar minha branquitude, trazer
referências próprias das africanidades, além de destacar a necessidade de
que jornalistas negras sejam escaladas pelos meios de comunicação. Afinal,
como ensina a jornalista e militante negra Agnes Maria, “não ser racista não é
o suficiente”. A compreensão do que é racismo estrutural, segundo ela, é de
extrema importância e urgência para que essa conscientização possa aconte-
cer no meio jornalístico.
“Ou, vamos continuar aceitando a ausência de profissionais negros nos
espaços de trabalho da comunicação e consequentemente, a reprodução de
um olhar racista na construção das informações’, explicou. Agnes, uma das
principais jovens lideranças negras de Uberaba, é também quem compartilha,
através das lives e cursos que organiza, os diversos saberes da filosofia africana. Pretta Moreno no palco
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