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Na declaração feita à Polícia Fede-
ral, Márcia descreveu a violência racista e
sexista que sofreu: uma música de ódio ao
povo negro e imagens de um órgão sexual
masculino foram algumas das formas de
ataque. Márcia relatou ainda, em detalhes,
como ficou psicologicamente abalada du-
rante e após o ocorrido: a visão embaça-
da, a voz embargada e a ânsia de vômito.
À noite, não conseguiu dormir, pois “cho-
rava e recordava de todas as vezes em que
minha voz foi interrompida por causa da
minha cor”, disse. “Eu não conseguia res-
pirar direito”.
Mas, não foi apenas isso. A profes-
sora revelou ter tentando manter-se calma,
mas, por dentro, estava aterrorizada com
as palavras do chat. “Me preocupei com os
alunos e as alunas que assistiam. Alguns
eram negros e menores de idade”, disse. A
Márcia Moreira
professora disse ter ficado atenta nas men-
sagens por temer que fossem direcionadas
Começo então essa roda, oferecendo o relato de Márcia Moreira, aos alunos também.
filha de Mariza e neta de Maria. Doutora em Letras e professora do Ins- Diante de fatos como esse, vale a
tituto Federal do Triângulo Mineiro, Márcia foi vítima de um lamentável e pena citar o saber de Sobonfu Somé, es-
criminoso episódio ocorrido no início de agosto durante a roda de con- critora citada por Agnes Maria em suas
versa virtual “Episódios de vidas negras: leituras sobre o racismo a partir lives. Sobonfu, autora de “O espírito da
do filme American Son”. O evento era apenas o primeiro de uma extensa intimidade”, buscou ensinar as possibili-
programação prevista para ocorrer naquele mês, mas que acabou cancela- dades de relacionamento, de acordo com a
da em razão do ocorrido. espiritualidade africana. Entre tantas bele-
zas escritas por Sobonfu, que morreu em
2017, aprendemos que o espírito - ou força
vital - orienta nossos relacionamentos para
o bem. “Seu propósito é nos ajudar a ser
Agnes Maria Sobonfu Some
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