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me permite auxiliar na mesma medida em que recebo pedidos de
ajuda e isso é muito frustrante”, conta. O hábito de ajudar começou
na infância, quando precisou auxiliar a própria mãe, que sofria vio-
lência doméstica. Depois, com o tempo, notou que as pessoas procu-
ravam por ela espontaneamente para pedir ajuda. Não parou mais.
Ela reflete sobre sua atuação. Enquanto a caridade é um ato imediato,
o voluntariado solidário chama para ação. “No verdadeiro volunta-
riado, você contribui com outra pessoa de forma ativa para que uma
transformação realmente aconteça”, diz.
Agnes Karlowa de Almeida também acredita que o voluntariado
prescinde de uma postura diferenciada. Ela desempenha esse traba-
lho há mais de 15 anos. Mas, as ações ficaram ainda mais recorrentes
depois que um acidente grave, há alguns anos, fez com que ficasse
impossibilitada de trabalhar. Com isso, decidiu dedicar o pouco tem-
po disponível para ajudar aos demais. “As dores são muitas, então
tenho que fracionar meu tempo entre deitar, sentar e andar”, revela.
Mas nunca falta energia para auxiliar quem precisa. “Me dei conta de
que a fome não pode esperar”, diz.
Segundo ela, quando estamos falando de caridade, é preciso ter
humildade, respeito e carinho pelo próximo. “Devemos ter muito cui-
dado para não expor a pessoa que vamos auxiliar, sendo com palavras,
gestos ou atitudes”, pondera. Antes do acidente, Agnes trabalhava há
mais de uma década como gerente de uma loja de departamentos.
“A gente se segura para ser forte, mas na maioria das vezes a gente
chora’’, revela.
Patrícia Andrade sabe bem a importância de um voluntariado críti-
co na vida das pessoas. Depois de sair de um relacionamento abusivo,
em 2017, passou a contar sobre sua história e a ajudar outras mulhe-
res que passaram pela mesma situação. Foi quando percebeu que,
quanto mais ajudava mais aprendia e, consequentemente, melhor se
sentia. “Percebi que com minha experiência de superação eu poderia
ajudar outras mulheres’’, conta.
Ela também acredita que o trabalho solidário precisa ser realizado
com compromisso ético, pois corre-se o risco de humilhar a pessoa
que recebe algum auxílio. Além disso, a diferença entre a pessoa ca-
ridosa e aquele que exerce um voluntariado solidário é gritante. “O
caridoso vai, ajuda e termina seu trabalho. Já o voluntário está ali
constantemente”, reflete. Embora poucos consigam perceber a di-
ferença entre voluntariado, caridade e solidariedade, refletir sobre
a prática do voluntariado pode ajudar a melhorar ainda mais uma
atuação que pode trazer grandes benefícios sociais coletivos.
Os professores Lucilda Selli e Volnei Garrafa chegaram a analisar
justamente as motivações que levam os voluntários a exercerem tal
atividade. No levantamento que divulgaram em 2004, perceberam que
as pessoas são voluntárias para “ajudar as pessoas”, “tornar as pesso-
as mais autônomas”, “contribuir na construção da justiça”, “reduzir
as disparidades sociais”, “cumprir com a sua parte como membro
da sociedade”. Faltaria, contudo, segundo eles, perceber que, além
da disponibilidade interna, a solidariedade crítica é uma prática que Foto Luis Gustavo Prado Secom UnB
supõe sujeitos engajados, politizados e comprometidos. “A mola pro-
pulsora à atividade voluntária solidária é o reconhecimento do outro
como sendo um humano igual a cada um de nós e, como tal, digno”,
concluíram na ocasião.
Renata Trindade
Agnes Karlowa de Almeida
Patrícia Andrade
Volnei Garrafa, docente da UnB, mais antigo na ativa
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