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DOSSIÊ
A educação ocupa
lugar estratégico
na construção, pelo
capital, de um novo
consenso social
que garanta seus
objetivos de lucro e
acumulação
Segundo Santos (2005), a “globalização” é formada por conjuntos diferencia-
dos de relações sociais, que se manifestam em variados fenômenos. Portanto, para
compreender seu significado, temos de analisar o fenômeno em seu movimento con-
traditório, isto é, desde uma perspectiva dialética e como parte da totalidade das re-
lações sociais capitalistas. Ou seja, temos de analisar o fenômeno do ponto de vista
do seu movimento hegemônico e contra-hegemônico. Nesse sentido, Santos (2002)
diferencia a globalização hegemônica da contra-hegemônica, considerando a primei-
ra predominantemente organizada “de cima para baixo” e regressiva do ponto de vista
dos direitos sociais. A segunda, isto é, a contra-hegemônica, visa inverter esse quadro,
se organizando da base para o topo. Nesse sentido, a globalização contra-hegemôni-
ca é construída por alianças e parcerias transfronteiriças de movimentos sociais, que
colocam como foco, em sua luta, a derrubada dos efeitos da globalização neoliberal
(hegemônica). Em outras palavras, a globalização contra-hegemônica visa resistir a
poderes translocais, nacionais ou até mesmo globais no terreno da luta de classes.
Germano (2007, p. 48), ao se referir à globalização contra-hegemônica, cita os
seguintes exemplos:
As lutas em favor da reforma agrária, da demarcação das terras indígenas;
contra a devastação da floresta amazônica, a poluição ambiental, a precari-
Revista Princípios nº 159 JUL.–OUT./2020 na Shiva na Índia, são exemplos de lutas locais contra poderes translocais/
zação do trabalho, a erosão dos direitos sociais, o tráfico de pessoas, as guer-
ras e a intolerância; bem como as lutas em defesa das diversas tradições da
criatividade e dos diferentes sistemas de conhecimento, como faz Vandan-
globais. Tais lutas se traduzem em ações e políticas emancipatórias que se
distanciam das políticas compensatórias e residuais, no sentido atribuído
por Richard Titmuss, bem como das políticas emergenciais, focalizadas e
assistencialistas do neoliberalismo. Enfim, das políticas de “pronto socorro
social”, de que fala Castel (1997). Essas políticas levam oxigênio a quem está
ordem social desigual, injusta e opressiva.
184 em desespero, mas mantém a exclusão e a subalternidade, reforçando uma