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ARTIGO


            Além disso, cabe assinalar: 1) a poupança externa (incluindo aí as ajudas unilaterais
            estadunidenses) nunca passou dos 10% dos fundos para investimentos em capital fixo
            no país; 2) sua experiência de endividamento externo distingue-se pela participação
            menor de dívidas do setor público, evitando que os ajustes onerem as finanças gover-
            namentais (como foi o caso brasileiro nos anos 1980).
                   Também é importante a forma particular do comportamento do balanço de
            pagamentos do país. O gráfico 6 demonstra um comportamento temporal em que
            déficits crônicos ocorreram notadamente entre os anos de 1976 e 1985 — notadamente
            fruto de endividamento externo e dos choques do petróleo de 1973 e 1979 —, porém
            com tendência a superávits que se mantém desde 1997, tornando-se elemento fun-
            damental explicado pelos ganhos crescentes de valor agregado de suas exportações.


            Gráfico 6 — Balanço de pagamentos (% do PIB) — Coreia do Sul, 1976-2018
























            Fonte: World Bank.

                   Outra dimensão da estratégia sul-coreana é a relação entre salários e produ-
            tividade do trabalho. Essa relação deve servir tanto a uma virtuosa distribuição fun-
            cional da renda quanto a taxas de lucros atrativas para o investimento privado. Nesse
        Revista Princípios      nº 159     JUL.–OUT./2020  que foi responsável por manter a taxa de salários praticamente inalterada entre 1958
            aspecto pode-se dizer que a Coreia do Sul passou pelo “modelo Lewis”, pois a abun-
            dância da mão-de-obra foi fundamental para a acumulação de capital na medida em


            e 1967 (KIM, 1991, p. 44). Em meados dos anos 2000 o país encontrava-se em estágio
            intermediário entre o nível de salários praticados nos EUA e Japão e os praticados no
            restante do Sudeste Asiático (GUARINI; RABELLOTTI, 2006, p. 7). A tabela 1 mostra
            que o crescimento da taxa real esteve sempre abaixo da produtividade do trabalho de
            1967 a 1975, sendo que a partir de 1976 começa a se inverter tal tendência. Expressivos
            aumentos salariais podem ser observados no final da década de 1970, momento em

            — fruto também da crescente sindicalização dos trabalhadores urbanos.

     222    que novas leis e regulamentos sobre o trabalho foram elaborados e postos em prática
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