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ESPECIAL BICENTENÁRIO 2022
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As lideranças dos movimentos reformas pequeno-burguesas, mas não mediadas, havia uma diferenciação de
tenentistas, após a Coluna Prestes, se- possuía uma base social. interesses entre os militares e civis, que
guiram diferenciados caminhos. Uma Entre outras interpretações, desta- se uniram no movimento tenentista. Os
grande parte se juntaria ao movimento ca-se também a de José Murilo de Car- militares moveram-se muito mais pelas
da Revolução de 1930. Prestes, no exílio valho (1985), que, apoiando-se na teo- suas condições militares do que sociais,
na Bolívia, Argentina e União Soviética, ria das “instituições totais”, de Goffman, mas assumiram um papel de represen-
tornou-se um comunista e se transfor- aponta para a autonomia das forças ar- tantes dos setores médios urbanos.
mou na principal liderança comunista madas diante dos demais órgãos do Es- “[...] o tenentismo é liberal-de-
brasileira nas décadas seguintes. No iní- tado e, consequentemente, da autono- mocrata, mas manifesta tendências
cio dessa trajetória, a recusa do convite a mia do próprio movimento tenentista, autoritárias; busca apoio popular,
Prestes em liderar a Revolução de 1930 que expressava um processo de institu- mas é incapaz de organizar o povo:
“consistiu evidente reconhecimento de cionalização do Exército na República pretende ampliar a representativi-
que a causa ‘tenentista’ era portadora das Velha. Além disso, dade do Estado, mas mantém uma
melhores esperanças de regeneração po- [...] o tenentismo seria um fe- perspectiva elitista; representa os
lítica do país.” (MORAIS, 2005, p. 238). nômeno de transição, dentro de interesses imediatos das acamadas
um processo político mais amplo, médias urbanas, mas se vê como re-
As interpretações sobre o de constituição do intervencionis- presentante gerais da nacionalidade
movimento tenentista mo militar. As bases desse processo brasileira. (FORJAZ Apud LANNA
teriam surgido durante a Primeira JÙNIOR, 2013, pp. 344-345).
Sem a pretensão de esgotar as diver- República, auge da intervenção con-
sas interpretações sobre o tema, apoia- testatória e da gestão da intervenção Para Anita Prestes: “Os militares
do em Lanna Júnior (2013), podemos controladora. O tenentismo seria refletem em seu comportamento – ain-
classificar algumas interpretações sobre um tipo de intervenção contesta- da que de forma peculiar e modificada,
o movimento tenentista da seguinte tória, com fundamentos institucio- pelo fato de pertencerem à corporação
forma: como expressão de um movi- nais, que teria contribuído para o armada – os conflitos e problemas que
mento de vanguarda dos setores mé- desenvolvimento de um outro tipo se desenvolveram na vida social e políti-
dios da sociedade, desembocando no de intervenção, a controladora. Esta ca da Nação.” (PRESTES Apud LANNA
caráter burguês da Revolução de 1930. última explicaria a ação dos militares JÚNIOR, 2013, p. 345). Nesse sentido,
Os representantes dessa tese são Nelson em 1930, 1937, 1945 e 1964, quando, os militares, considerados como uma
Werneck Sodré, Hélio Jaguaribe, Guer- ao ugar da política no Exército, ins- camada social, expressavam interesses
reiro Ramos, Wanderley Guilherme e titui-se a política do Exército. (LAN- de uma camada urbana que não encon-
Edgard Carone; como movimento mi- NA JÚNIOR, 2013, p. 343). trava no aparato político partidário for-
litar, na lógica interna das forças arma- mas de expressão próprias.
das, a partir de Vavy Pacheco Borges; a Edmundo Campos Coelho (1985), João Quartim de Morais compre-
perspectiva de Boris Fausto, que defen- dialogando com Carvalho, aponta o endia que os tenentes “eram militares
dia que “os oficiais rebeldes saíram das movimento tenentista numa outra tran- de esquerda, convencidos de que só
classes médias menos favorecidas, mas sição, aquela que, diante da crise do Esta- pela força podiam livrar o país das gar-
o Exército falava mais alto como insti- do, alinhou o Exército aos interesses de ras da oligarquia, de seus políticos e de
tuição que guardava certa autonomia” frações das elites civis. As crises militares seus ‘coronéis’” (MORAIS, 2005, p. 214),
(p. 342) em relação à sociedade, não se eram manifestações das crises do Estado. criticando aquelas interpretações que
tratando de uma relação direta entre os Nas reflexões de José Maria Bello, na concebiam o movimento como elitista.
setores médios e o tenentismo. Para Bo- década de 1940, e com Maria Cecília Spi- Quartim de Morais apontou o recruta-
ris Fausto o tenentismo era defensor de na Forjaz, surgiram interpretações mais mento de voluntários em São Paulo du-
114 ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020