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NACIONAL
viram obrigados a desdobrar suas ativi- atingiram o maior índice desde 1998,
dades para o novo contexto. Parte im- quase 5 mortes por dia, contabilizan-
portante dessas iniciativas consolida-se do 741 vítimas nos cinco primeiros
na construção de mapas e plataformas meses do ano (Rodrigues, 2020), 75%
digitais, articulando diversos operado- delas sendo de pessoas negras. Segun-
res sociais como pesquisadores, mili- do a plataforma digital Fogo Cruzado,
tantes de diversas organizações sociais apesar de a diminuição do número de
e profissionais de diversas categorias. tiroteios na região metropolitana do
“Nas suas diferentes conformações e Rio de Janeiro, o número de crianças
modos de atuação, essas plataformas mortas nos 4 primeiros meses de iso-
e redes de apoio parecem se configu- lamento social, teve um aumento de
rar como verdadeiros operadores de 150% com 5 mortes registradas, foram
escala, dando ressonância aos agencia- 2 em 2019.
mentos locais e transterritoriais para Na região metropolitana de Reci-
lidar com os efeitos devastadores da fe, houve um aumento de 50% no nú-
pandemia. E também para contornar mero de tiroteios em relação ao ano
os efeitos nefastos da desinformação anterior e só no mês de julho foi con-
zem à tona justificativas para o uso da sistemática promovida pelos poderes tabilizada uma crescente de 117% em
violência estatal contra os residentes públicos (idem)”. feridos por arma de fogo. No estado de
dessas localidades, bem como “refor- São Paulo, a letalidade policial cresceu
çar preconceitos de parte da sociedade, Violências na pandemia 22% em comparação ao mesmo perío-
que enxergam as favelas como lugar de do correspondente, de janeiro a maio
marginal, de bandido, de sujeira, e que, Desde o início da Pandemia o que em 2019, o que significa uma morte a
portanto, precisam ser eliminadas” se percebe é um aumento significati- cada seis horas. E, em maio de 2020, o
(Rolnik et al. 2020). vo no controle e vigilância dos espa- número de mortos pela polícia militar
Contra os processos de invisibili- ços, atuando contra os trabalhadores a em serviço representou um aumento
zação do número de mortos e conta- “pretexto de combater a contaminação de 43,6% em relação ao mesmo perí-
minados, desde o início da pandemia do vírus por meio de fortes políticas re- odo de 2019 e os mortos por PMs de
consolidaram-se uma série de iniciati- pressoras e através dos já mencionados folga em abril agora correspondem a
vas populares a fim de promover re- processos de invisibilização. No entan- um aumento de 180% em comparação
gistros alternativos aos dados oficiais to, na prática o que se observa é que com abril passado (2019).
e monitorar o impacto da pandemia, o poder público tem sido o promotor Os dados variam de um estado ao
bem como promover uma série de e protagonista dos processos de violên- outro, mas o que tem de semelhante é
outras ações de combate ao vírus e de cia” (Aguiar, Barbosa, 2020). a continuidade de uma prática racista
subsídio à população menos assistida As diversas formas de violência têm e alvos comuns: a maioria das vítimas
pelo Estado (Telles et al., 2020), que afetado de diferentes maneiras a popu- (68%) é negra e residente de áreas peri-
também passam a ser mapeadas. lação, como a negação dos serviços bási- féricas. Ao longo da pandemia, inúme-
Articulações populares e sociais, cos e a letalidade policial como meio de ras denúncias públicas, acompanhadas
ancoradas em coletivos territoriais, controle ostensivo dos territórios. de imagens, retrataram o cotidiano
grupos de trabalho, movimentos so- Durante a pandemia, a letalidade violento dos moradores de periferias e
ciais, sindicatos etc., com a iminente policial cresceu exponencialmente em ocupações urbanas, dos trabalhadores
proliferação do vírus e o regime de diversos estados brasileiros. No Rio dos comércios populares das grandes
isolamento e distanciamento social, se de Janeiro as mortes por ação policial cidades, do campo etc.
ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020 21