Page 351 - Fernando Pessoa
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FERNANDO  PESSOA

                 No azul menos pálido e menos azul,  que se espelha nos
            prédios, entardece um pouco mais a hora indefinida.

                 Cai leve, fim do dia certo, em que os que crêem e erram
            se engrenam no trabalho do costume, e têm,  na sua própria
            dor, a felicidade da inconsciência.  Cai leve,  onda de luz que
            cessa, melancolia da tarde inútil, bruma sem névoa que entra
            no meu coração.  Cai leve, suave,  indefinida  palidez lúcida e
            azul  da  tarde  aquática  —  leve,  suave,  triste  sobre  a  terra
            simples e fria.  Cai leve, cinza invisível, monotonia magoada,
            tédio sem torpor.
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