Page 71 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL APRENDER A SER E ESCOLHER - EDNEIA APARECIDA BATISTA
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mais do que duas vezes superiores aos dos adultos, o que significa que a 71
população mais jovem encontrava maiores dificuldades de inserção no
mercado de trabalho (Guimarães, 2012).
Um olhar mais cuidadoso para os dados estatísticos indica que esse
dilema não se coloca do mesmo modo para moças e rapazes e para
jovens negros e brancos. Em 2009, a taxa de desemprego juvenil das
mulheres jovens (23,1%) era bastante superior à dos homens jovens
(13,9%) e os níveis de desocupação dos jovens negros (18,8%) também
eram mais elevados do que os dos brancos (16,6%). As desigualdades de
gênero e raça ficam ainda mais evidentes quando nos deparamos com
os indicadores das jovens mulheres negras: a taxa de desocupação delas
(25,3%) era 12,2 pontos percentuais superior à dos jovens brancos e do
sexo masculino (13,1%).
Como entender essas desigualdades? Em um estudo realizado com
jovens da cidade de São Paulo, Maria Carla Corrochano (2012) constatou
que jovens mulheres são, em alguns casos, inquiridas, em situações de Orientação Profissional: aprendendo a SER e a ESCOLHER
entrevista de emprego, sobre suas vidas afetivas e sexuais, não devendo
demonstrar indícios de que possam ou desejem engravidar. Além disso,
houve relatos em que a demanda de empregadores por “boa aparência”
convertia-se em sinônimo de jovens brancos. Dois depoimentos de
jovens participantes do estudo são evidências claras desse tipo de
discriminação:
“(...) quando você vai fazer entrevista, a primeira coisa
que eles perguntam é se você é casada, se pretende ter
filhos, se pretende, daqui a quanto tempo. Aí ele
[empregador] falava: ‘você é casada, você tem filho?’,
‘não’, ‘vai ter filho daqui a quanto tempo?’. Você tem
que falar que não pretende ter filho agora, para
conseguir passar para a próxima seleção. (Adriana, 20
anos, preta, Ensino Médio completo)”