Page 10 - Relatos de uma Quarentena

SEM OPÇÃO
Um tempo que che-
gou de repente e nos intimou
a parar, sem dar a segunda
opção.Não houve como recla-
mar, simplesmente paramos.
Inicialmente sem rumo, só sa-
bíamos que, de alguma forma,
precisaríamos continuar, mas
não sabíamos como continua-
ríamos.
Acredito que cada um se res-
significou, se reinventou, nos
mais diversos aspectos; pa-
recia uma nova vida mesmo,
bem diferente, com sentimen-
tos, mas sem proximidades.
Triste ter que abandonar os
velhos hábitos de chegar per-
to, abraçar, beijar; há quem
não goste muito e sempre es-
colheu ficar só, o que definiti-
vamente não é o meu caso, eu
preciso de pessoas para viver,
preciso ter contato, conversar,
fazer reuniões, entre muitas
outras coisas...Eu também,
confesso que relutando, pre-
cisei readaptar aos poucos.
Os pontos positivos
estão nas devolutivas das fa-
mílias que valorizam o nosso
trabalho, elogiam, retornam
as atividades e tiram dúvidas.
Também houve uma maior
aproximação por parte das
professoras que compõem o
mesmo ciclo, criamos grupos
e tivemos muitos contatos vir-
tuais. Isso nos ajudou a dimi-
nuir o sofrimento desse mo-
mento delicado.
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Esse comportamento Então as preocupações au- Sonho em prosa
que tenho se refere a minha mentaram e para mim, se
vida pessoal e profissional, transformaram em frustração. Que mundo era aquele, era a pergunta que
adoro atuar com a turma, tro- Busquei as famílias, contactei, me fazia o tempo todo
cando experiências, ensinan- formei grupos, orientei diver- Tudo ali muito desigual do meu habitat, dos
do e aprendendo. Com tudo sas vezes sobre os acessos à lugares que frequentava e que conhecia tão
isto, não há como citar muitos plataforma, mas os retornos bem
sentimentos positivos. foram mínimos, alguns com As pessoas também eram bem diferentes,
Inicialmente o sentimento era explicações claras, outros mas não muito...
de muita preocupação, inse- com algumas justificativas e Eram pessoas do meu convívio diário, no-
gurança e medo no sentido outros ainda sem resposta. mes que eu conhecia
do que e como faríamos para Isso, para nós educadoras, que Mas com outros semblantes e outros modos
trabalhar, para ensinar os alu- acreditamos no que fazemos de ser, sem máscaras
nos a distância? Como eles e temos certeza da seriedade Daniela Feitosa da Silva O que era mais estranho para mim era que
fariam para se comunicar e do nosso trabalho é muito di- havia escola neste mundo desconhecido
aprenderem? Sabíamos que fícil de ser levado como algo E eu trabalhava em uma delas, e carregava
haveria muita dificuldade de- normal. crianças no colo, pra lá e pra cá
vido ao nível social e até mes- Na realidade, para mim fica Era tudo surreal
mo intelectual da família para apenas uma afirmativa de que Lá, os alunos
auxiliar as crianças. Depois o o resultado dos índices do fra- Não queriam ir embora da escola, nunca...
que replanejar para as aulas casso escolar está intrinseca- E sempre pediam para que eu esperasse
remotas? O que oferecer para mente ligado ao descaso ou PANDEMIA mais 5 minutos
esses alunos e como atraí-los? desvalorização da importân- Reportava-me a diretora e intercedia, para
Tivemos o respaldo com as cia do ensino por parte dos Pandemia ! Valha- me Deus “ vixi” Maria ! que os deixasse ficar
orientações, plataformas e pais. Não estou deixando de Trabalhar dia sim, dia não... Ela respondia que sim,só mais 5, e quando
materias, mas não era só isso. levar em conta as dificulda- Home office, que confusão: este tempo se passava, apontava para o
De fato no decorrer das au- des familiares, algumas com Um olho na panela outro na reunião. relógio
las percebemos que a gran- problemas emocionais, outras Dizendo-lhes que iriamos fechar os portões,
de maioria não conseguiria por falta de equipamentos e A quarentena é outro dilema, novamente eles pediam em uníssono, mais
acompanhar, por falta de con- acessibilidade entre outros Uns respeitam outros não! cinco, por favor, só mais 5
dições gerais. recursos. Mas o que mais me angustia são as vida Assim horas e horas se passavam, atenden-
que se vão, do aos pedidos daquelas crianças, jovens,
No sofrimento na solidão .... meninos e meninas
Que estavam ali, não em sala de aula, es-
Mas quem diria, Pandemia, tudando, mas contando seus causos, suas
tem um lado bom, se assim posso dizer : histórias, suas experiências...
Me descobri cozinheira e estou arrasando Uns para os outros, uns para todos, num
no crochê ! ambiente tão agradável e descontraído que
Melhor de tudo é vê os primeiros passos do expulsá-los dali parecia uma afronta sem
meu bebê. precedentes,
Ter mais tempo pra curtir a família! Tínhamos que nos inclinar, fazer suas vonta-
des e permitir aquele cenário celestial.
Descobri que as pessoas são solidárias, Que mundo era aquele, me perguntei pela
que ninguém é uma ilha! última vez, quando num pulo levantei,
A Pandemia jogou nossas falhas na nossa Naquele dia estava escalada e tinha que
cara e nos fez vê, correr contra o tempo para não me atrasar
Que você é igual e mim, eu sou como você para o trabalho
. Ao chegar à escola meu desejo era ver tudo
Angela Maria P. Rodrigues Que juntos podemos lutar e nos ajudar. aquilo “do sonho” se tornar realidade, mas
#vaipassar ao contrário daquele mundo tão instigante
Encontrei um prédio tão frio, com suas salas,
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