Page 21 - Relatos de uma Quarentena
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dizagem e, consequentemente, de acesso ao co-     O inesperado!      A PANDEMIA   sa juntos para as refeições, além de outras
 nhecimento e seu uso racional para proporcionar               situações difíceis de realizar durante a roti-
 uma vida digna e melhor a professores e estu-     De repente surge algo inespe-     Quando os casos de pandemia co-  na normal de trabalho, são os poucos pon-
 dantes. Todos têm o direito de aprender tudo de   rado nesse século que veio mudar nos-  meçaram a aparecer na Europa, eu imagi-  tos positivos de todo esse período triste e
 que precisam, tanto conhecimentos científicos e   sa rotina, nossa direção nossos planos.   nei que, se o governo tivesse responsabili-  cheio de incertezas. Os conflitos se dão em
 técnicos quanto conhecimentos filosóficos e éti-  Veio marcar nossa história com medo,   dade com a saúde da população brasileira,   relação à organização do tempo pra cada
 cos, dado que não basta aprender a pesquisar e   incertezas, dor e perdas.  a primeira medida a ser tomada seria a de   função. Conciliar atividades de casa  e da
 explorar a natureza, também é preciso utilizá-la   Perdemos  o controle do desenvolvi-  cancelar o carnaval a fim de evitar a aglo-  escola tornou-se  um grande desafio que,
 de modo responsável e sustentável para que to-  mento  econômico, engraçado, isso   meração  que sempre ocorre e proteger   depois de tanto tempo, ainda me encontro
 dos tenham  acesso aos  bens de consumo sem   parecia ser o que mais importava. Po-  as pessoas deste mal, que já se espalhava   realizando planejamentos diários como se
 destruir a natureza.  rém, pela primeira vez surgem as dis-  por diferentes países. Mas, como fechar os   fosse impossível fixar um para todos os dias.
 cussões sobre o que realmente vale a   olhos para tanto dinheiro que esse evento   É muito bom não precisar delegar, a outras
 pena se importar  e nesse debate  se   traz para o Brasil, não é mesmo? Eu, assim   pessoas, determinadas funções e cuidados
 inclui a “vida humana”.   como a maioria dos brasileiros, sabia que   de casa. Ao mesmo tempo, torna-se exaus-
 E quando esse vírus nos alcança! Traz   esse vírus chegaria aqui, porém tinha espe-  tivo e estressante lavar tantas louças todos
 a cicatriz do medo  e do pânico, nos   ranças de que ele não proliferasse da mes-  os dias.
 afasta dos abraços dos filhos e de to-  ma maneira, por ser um país de clima quen-     A pandemia trouxe mudanças, nun-
 dos que amamos,  a  nossa esperança   te, bem diferente da Europa, na época.   ca  antes imaginadas, na  vida  de todas  as
 persiste em aguardar sua partida sem      Aos dezessete dias de março, fui in-  pessoas. Fez e continua fazendo muitas ví-
 que nos leve a vida.  formada de que deveria trabalhar de casa,   timas. Não aponta, por enquanto, possibili-
    Feliz  quem  volta a sonhar, o   por fazer parte do chamado grupo de risco:   dades concretas para acabar e penso que o
 aprendizado fica em saber agradecer   pessoas maiores de sessenta anos ou com   comportamento humano não voltará a ser o
 e valorizar cada momento com a famí-  alguma doença crônica. Apreensiva, imagi-  mesmo de antes, por muito tempo. Vivemos
 lia, com os amigos, com nossos alunos.   nei que seria a solução para alguns dos pro-  com  esperanças de que  cientistas encon-
 É preciso ter fé, pois ela mantém a for-  blemas que enfrentava no momento. O lado   trem a solução para esse mal invisível.
 ça e nos acalma, traz a esperança de   burocrático da minha função estava no auge
 Giovane Pazuch  que em um futuro bem próximo pos-  do acontecimento, portanto, sem a correria
 samos voltar a viver em uma socieda-  da escola no dia a dia, conseguiria desen-
 de melhor, apesar dos traumas.  volver o trabalho com maior rapidez e logo
           estaria livre para as funções pedagógicas,
           propriamente ditas, quando pudesse voltar
 Inalva Costa                                       ao meu trab alho presencial. Imaginei, as-
           sim como muitas pessoas, que tudo voltaria
           ao normal em pouco  tempo, em  um mês,
           mais tardar, dois.
                  Hoje, prestes a completar oito meses
           trabalhando de casa, não vejo possibilidade
           de retorno às funções presenciais este ano.
           A contaminação do vírus ainda é tão grande                                           Inês Burigatto
           que assusta, ainda faz tantas vítimas que o
           sentimento predominante é o do medo de
           perder pessoas próximas, que amamos. O
           sentimento de impotência, diante desta si-
           tuação, também predomina e nos leva a re-
           fletir sobre o quão frágil somos e sobre o
           quanto temos que valorizar a vida.
                  Trabalhar em casa proporciona pon-
           tos positivos e conflituosos também. Cuidar
           dos nossos familiares neste momento, estar
           próxima a eles dando atenção, sentar à me-





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