Page 25 - Relatos de uma Quarentena
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não conheço pessoalmente mas que têm sido anjos de luz nesse tempo de instabilidade   INFECTADA
 emocional, pessoas que tem me reanimado a prosseguir e driblar os obstáculos que estão   “
               Eu professor do fundamen-
 surgindo dia após dia, agora o sentimento mudou é GRATIDÃO.
  Mas não para por aí.... Achei que estava ficando bem, mas minha cunhada que citei no início   tal II, EMEF José Francisco Cavalcante,      Quando fiquei  sabendo  sobre  o
 deste relato veio a óbito depois de quatro meses de internação nos entregou a difícil mis-  tenho grande preocupação se remota-  vírus,  que estava  “entrando”  no Brasil,
 são de contar para uma criança de cinco anos que sua mãe não voltaria mais pra casa e sua   mente os alunos estão aprendendo  o   fiquei meio sem saber o que pensar. Os
 nova realidade, e pensar que muitas crianças estão passando por esse momento também, a   suficiente para chegar no próximo ano   dias foram passando e a  quantidade de
 voz embarga e o sentimento que agora consigo enfim externar é TRISTEZA. Foi muito duro   estudantil da sua vida. Com a presença   infectados foi crescendo também, até que
 não poder dar um último adeus da forma como fazíamos antes da pandemia. Hoje estou tão   dos alunos em sala de aula, estava difí-  chega a notícia que as escolas fechariam
 cansada e escrevo esse relato com lágrimas nos olhos com os mesmos sentimentos citados   cil para alguns. Agora com muitos alu-  e todos deveríamos ficar em casa em qua-
 no discorrer desse relato mas mantendo a  ESPERANÇA  por dias melhores!!!!  nos que não tem possibilidade de ad-  rentena. Fiquei assustada neste momento,
             quirir um meio de se comunicar com                  porque isso nunca havia acontecido. Vi a
             a escola e seus professores fica mais               gravidade da situação com a notícia.
 Jéssica Ferreira da Silva Dias  difícil ainda. Eu que só assistia alguns          O meu primeiro e maior medo, e essa
             vídeos de colegas, agora tenho que fa-              é a palavra, MEDO, foi da minha mãe con-
             zer para alcançar o intelecto do aluno.             trair essa doença, já que ela tem proble-
             Sinto em  não  poder  ver  a expressão              mas de saúde (diabetes, pressão alta,
             do aluno, no momento em que ele en-                 hipotireoidismo, e outros)  que compli-
             tendeu ou não e poder sanar sua duvi-               cariam com esse vírus. Então comecei a
             da naquele momento realmente e um                   ficar paranóica, de uma certa maneira,
             pouco frustrante para mim. Sei que a                porque os meus tios são daquele tipo de
             ótimos professores que consegue atin-               idosos, como  muitos, super  teimosos  e
             gir o intelecto do aluno. Espero contri-            não acreditavam e até hoje não acreditam
             buir o Maximo que estiver ao meu al-                muito no “poder” destrutivo desse vírus.
             cance.                                              Então a minha “guerra” inicial foi contra
                    Na volta as aulas com suspeitas              eles, para não ficarem visitando minha
             de vírus do covid-19, ficaremos rece-               mãe, e outra pessoas também. Tanto eu e
                                                                 minha irmã mais velha ficamos conheci-
             osos por não saber se seremos trans-                das como as chatas, até insuportáveis, que
             missor  ou receptor. Infelizmente  nos              proibiam as pessoas de verem nossa mãe.
             preocupamos com as nossas famílias e                Eu ficava assistindo as notícias pela tv e
             as dos nossos alunos e colegas de tra-              internet e quanto mais eu via e ouvia mais
             balho envolvidos em um mesmo local.                 ficava mal, pensando na minha mãe con-
             Espero que as autoridades revejam se                traindo essa doença. E me deixava em
             vale a pena voltar ou não, há muitas vi-            certos momentos apavorada, até chorava.
             das em frágeis que necessitam de saú-                      Tudo começou a mudar quando colo-
             de nesse momento.               “                   quei minha confiança no Sr Jesus, que eu
                                                                 busco e sirvo tem mais de 10 anos. Tirei o
                                                                 foco do problema e coloquei meu foco em
                                           João Ambrósio         Deus. Aí foi quando fiquei bem, tranqui-
                                                                 la e sem aquele pavor inicial que eu me
                                                                 encontrava. Eu não tinha medo  de ficar
 AGENCIA GETTY                                                   doente, mas  tinha medo, como falei, da
                                                                 minha mãe ficar doente. Parei também de
                                                                 ver as notícias, e passei a fazer coisas na
                                                                 minha casa que eu não tinha muito tem-
                                                                 po pra fazer antes, por conta do trabalho,
                                                                 como limpar todos os meus sapatos, arru-
                                                                 mar armários, guarda roupa, faxinar mais
                                                                 detalhadamente, fazer coisas manuais
                                                                 que gosto de fazer e assistir tv, filmes, no-




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