Page 172 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
P. 172
Naquela noite inesquecível, uma fogueira simbólica ilumi-
nava suavemente a areia, cuidadosamente acesa sob orientação dos
biólogos do Instituto Boreal para não ferir a vida marinha. Era mais
que um calor físico — era um calor ancestral, de comunhão e me-
mória. Em seu entorno, jovens e cientistas de todos os cantos do
mundo sentaram-se lado a lado, formando um círculo de escuta e
presença.
Não havia palcos nem microfones. Apenas vozes que se re-
vezavam com respeito, sons de risos contidos, suspiros atentos e o
ritmo suave das ondas como fundo musical. Um grupo de jovens
japoneses iniciou uma canção tradicional sobre as baleias, que fa-
lava de proteção e saudade. A melodia foi acompanhada por palmas
compassadas e por um tambor artesanal de bambu, cuja batida pa-
recia o próprio coração do oceano.
Logo depois, um rapaz canadense compartilhou uma lenda
inuit sobre o "Espírito das Correntes" — uma entidade invisível que
vivia nas águas profundas e mudava de forma conforme o equilíbrio
do mar. Cada história, cada música, cada gesto formava um elo.
Não havia mais fronteiras. Havia pertencimento, irmandade
oceânica.
Dr. Takashi, sentado entre Helena e Dona Yara, observava
tudo em silêncio respeitoso. Dona Yara, com os olhos marejados de
emoção, sussurrou como quem canta uma verdade antiga:
172

