Page 155 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
        P. 155
     Helena explicou, com a voz embargada:
           — Essa é uma tradição antiga entre os pescadores da região. Toda vez que
    querem agradecer ao mar ou fazer um pedido, devolvem uma concha que foi encon-
    trada em terra. Não como descarte, mas como promessa.
           Cada jovem caminhou até a beirada, fez seu voto em silêncio e lançou a con-
    cha. Algumas caíam com um leve "ploc", outras dançavam sobre as ondas antes de
    afundar.
           Lívia fechou os olhos e sussurrou:
           — Que o oceano continue nos guiando... e nos ouvindo.
           Naquela noite inesquecível, uma fogueira simbólica iluminava suavemente
    a areia, cuidadosamente acesa sob orientação dos biólogos do Instituto Boreal para
    não ferir a vida marinha. Era mais que um calor físico — era um calor ancestral, de
    comunhão e memória. Em seu entorno, jovens e cientistas de todos os cantos do
    mundo sentaram-se lado a lado, formando um círculo de escuta e presença.
           Não havia palcos nem microfones. Apenas vozes que se revezavam com res-
    peito, sons de risos contidos, suspiros atentos e o ritmo suave das ondas como fundo
    musical. Um grupo de jovens japoneses iniciou uma canção tradicional sobre as ba-
    leias, que falava de proteção e saudade. A melodia foi acompanhada por palmas com-
    passadas e por um tambor artesanal de bambu, cuja batida parecia o próprio coração
    do oceano.





