Page 157 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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— Que essas mãos, agora marcadas pelo azul, sigam deixando pegadas onde
    for preciso restaurar o mar. E que onde houver silêncio, levem canções. Onde houver
    ferida, levem cuidado.





           As despedidas vieram como ondas calmas, uma a uma, cheias de afeto e pro-
    messas. Não havia lágrimas tristes — havia olhares molhados de gratidão. Endere-
    ços, contatos, pequenos objetos trocados como lembranças e um mundo de planos:
    visitas futuras, colaborações em documentários, projetos artísticos, campanhas de
    preservação e uma enorme colcha de ideias compartilhadas.


           O gesto mais tocante foi de um garoto da Indonésia, de olhos vivos e sorriso
    constante. Com um caderninho artesanal na mão, foi até cada amigo que fizera e
    pediu que escrevessem uma frase. O título na capa era simples e poético: “Palavras

    para quando o mar estiver triste.”

           Lívia, emocionada, pensou com carinho antes de escrever:


           — "Escute. Sempre haverá uma voz no fundo das águas esperando por você."


           Ao receber o caderno de volta, o menino olhou para ela e disse:


           — O oceano agora tem memória. E ele tem o seu nome.





           No voo de volta, Lívia sentia o tempo dilatado. As nuvens sob a asa do avião
    pareciam  espumas  do  mar,  e  tudo  ao  seu  redor  ainda  vibrava  com  as  memórias
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