Page 33 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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esperasse que dali surgisse uma explicação. E então, com a voz embargada e baixa,
    murmurou:


           — Isso não é apenas o silêncio, é o verdadeiro grito do mar.


           E ninguém ousou responder.





           Naquela tarde abafada, enquanto o sol refletia dourado nas janelas da base,
    Noah convidou Lívia para a sala de monitoramento acústico. Era um espaço simples,
    com mesas ocupadas por computadores, fones de ouvido e pilhas de anotações. Mas
    para os cientistas, era ali que o mar revelava sua voz — ou o desaparecimento dela.


           — Antes, o mar aqui era como uma orquestra — explicou Noah, enquanto
    digitava alguns comandos no teclado. — Sons de golfinhos, corais, peixes, baleias…
    tudo junto, numa harmonia viva. Agora os sons sumiram, ficou um vazio, não vemos
    cores, não vemos vida.


           Ele apertou a tecla “Enter” e a tela se encheu de gráficos, linhas coloridas e
    espectros de frequência. Mas, onde deveria haver picos e ondas marcando os sons
    marinhos, o que se via era quase uma linha contínua, estática, plana como um sus-
    piro esquecido.


           — Chamamos isso de "zona morta sonora"  — disse ele, a voz mais baixa,
    como se o próprio nome carregasse luto.


           Lívia se aproximou devagar, seus olhos seguindo as linhas que não subiam,
    não dançavam. Onde antes o mar cantava,  agora só havia silêncio registrado em
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