Page 78 - Revista PSIQUE Ciência e Vida
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                                                                       do musico em relação as mulheres para se casar.
                                                                       Ele afirma ainda que Schubert morou na casa de
                                                                       vários amigos que faziam parte de uma comunidade
                                                                       homossexual masculina.
                                                                         Em uma frase escrita em 1826 pelo amigo
                                                                       Eduard von Bauernfeld, em seu diário, diz:
                                                                       “Schubert está doente, ele precisa de pavões
                                                                       jovens, como Benvenuto Cellini”. A frase indica
                                                                       precisar de jovens afeminados vestidos com
                                                                       extravagancia, pois Cellini era abertamente
                                                                       homossexual e também sifilítico, e este não deixa
                                                                       dúvidas em sua biografia sobre o uso de termo
                                                                       “pavão” ao se definir como jovem homossexual.
                                                                       De fato, documentos contemporâneos estudados
                                                                       por biógrafos sugerem a existência de tendências,
                                                                       no mínimo, bissexuais em Schubert e em vários
                                                                       membros de seu círculo de amigos.
                                                                          Em 1827 morre Bethoven, seu grande ídolo,
                                                                       por quem nutria um sentimento misto de
                                                                       admiração e temor. O desaparecimento daquele
                                                                       que era reconhecido como o grande gênio da
                                                                       música parece ter agido como um elemento
                        A grandiosidade de sua obra não foi reconhecida de imediato   liberador: durante os meses seguintes (até sua
                           pois era ofuscada pela fama de Beethoven (imagem), que   morte) acumula obras-primas.
                                viveu na mesma época e cidade que o conpositor  Neste período, suas obras representam diversos
                                                                       estados de animo, compôs o ciclio de canções
                                                                       Canto do Cisne, a obra-prima Nona Sinfonia em Dó
                              do almoço frequentava uma cafeteria, onde   Maior  e a  Missa em Mi Bemol Maior.
                              lia jornais e fumava cachimbo até as 17h, e na   A sua frágil saúde voltou a dar sinais de piora
                              sequência bebia com amigos em uma taberna.   em 1828, quando passa a recusar alimento. Os
                              Em relação aos sintomas depressivos, existem   médicos detectaram o motivo da recaída, febre
                              abundantes referencias escritas sobe sua   tifoide, aos 31 anos Schubert morre extremamente
                              tendência à “melancolia grave” ou a períodos de   debilitado, pobre, infeliz e se sentindo rejeitado
                              reclusão, prostração e “pouco falar”.    por muitos. Acredita-se que a causa da morte
                                O quadro depressivo piorou progressivamente   foi multifatorial, incluindo uma forma aguda
                              nos últimos anos, associados a uma descrença na   de febre tifoide, agravada pela anemia e pelo
                              vida e nas pessoas.                      envenenamento mercurial (medicamento usado
                                Esses comportamentos cíclicos descrevem os   na época), em um organismo enfraquecido pela
                              sintomas do transtorno bipolar.          sífilis terciaria e pelo alcoolismo.
                                Quanto à sexualidade, a discussão tem sido a   Quando morreu, o que possuía eram algumas
                              possível homossexualidade de Schubert. O debate   roupas desgastadas. Por outro lado, sua obra
                              começou em 1989 com o historiador Maynard   enriqueceu para sempre o universo da música. Seu
                                                  Solomon, que considera   corpo foi enterrado no cemitério periférico, só em
                         Seu quadro depressivo    as numerosas         1888 (60 anos após sua morte) seus restos mortais
                       piorou progressivamente    alusões escritas por   foram exumados e transferidos para o cemitério
                               nos últimos anos   contemporâneos de    central de Viena, onde repousa ao lado do tumulo
                            de via, associado à   Schubert sobre sua   de Beethoven, no chamado Panteão dos Artistas.
                                                  sexualidade como prova
                                                                       Infelizmente Franz Schubert, tão importante
                       descrença na existência    de uma “promiscuidade   compositor que influenciou a transição entre a
                           e nas pessoas. Esses   de caráter heterodoxo”   Era Clássica e a Romântica na história da música,
                      comportamentos cíclicos     ou “o lamaçal de     não viu suas obras reconhecidas, nem recebeu
                        descrevem os sintomas     devassidão que vive”   a alcunha de “o maior poeta lírico da música
                           do transtorno bipolar  e a grande indiferença   universal de todos os tempos”.    •







                                                 Anderson Zenidarci é mestre em Psicologia Pela PUC-SP, supervisor e palestrante.
                                            Coordenador e professor do curso de especialização em Transtorno e Patologias Psiquicas
                                          pelas Facis, professor de pós-graduação no curso de Psicologia de Saúde Hospitalar na PUC-
                                           SP. Atua há mais de 30 anos em atendimento clínico em diversos segmentos da Psicologia,
                                                    com especial dedicação à Psicossomática, transtornos e patologias psíquicas
          Março 2019 - Ano 12                                                                        PSIǪUE
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