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Obra-tia

I.
Quem escreve precisa ter paciência
e saber que se trata de arte e não de penitência:
é trabalho de pintor, de escultor, de quem precisa de tempo
para fazer e terminar o que bem sabe que nunca terminará.

Quem escreve sabe que há sempre algo a acrescentar,
a refazer, e essa certeza muitas vezes angustia,
pois sempre adia o término do que
deveria ser uma obra-prima!

Quem escreve o faz porque tem paciência
e consciência de sua aptidão.
Esse trabalho muitas vezes é de garimpo e, não raro,
o texto encontrado depois de muita procura e esforço
precisa ser devidamente lapidado, e quem o faz
precisa fazê-lo com o devido cuidado.

Quem escreve, por fim, escreve-se,
atreve-se a se expor por não suportar a dor
maior de não ter os seus textos lidos e
de não se perceber neles escrito.

II.
Pode ser que um dia
eu finalmente redija uma obra-prima.
O mais provável, todavia, é que finalize
apenas outra obra-tia — e daquelas bem chatas!

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