Page 66 - MOSAICOS 2018_Neat
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Reverencio-me louco e nu
Clico em teclas
que também clicam em mim
em cada toque que aplico no teclado.
Letra a letra, palavra a palavra
eu me crio, me apresento,
me recrio e me surpreendo.
Em cada linha alinhavada
a poesia vai me deixando nu
na tela que também me vê desconfiada
e que, mesmo assim,
a mim insiste em ler e reler.
Passado certo tempo,
contemplo-me corajosamente nu!
Por fim (ou por início),
a recompensa, o reconhecimento:
aplausos calorosos,
gritos de “Bravo! Bravo!”
e pedidos entusiasmados de “Bis! Bis!”.
Reverencio-me por pouco tempo:
meu teatro está vazio e apenas um louco, nu,
diante da tela e das teclas de seu computador,
conhece a dor que sente por ser escritor.
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