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Classe média omissa


                    Omissão é mais do que não participar,
                    é muito mais do que consentir ao se calar,
                    ao se desviar, ao deixar rolar e passar.

                    Quem se omite lava as mãos e as lava muito bem
                    com sabão, pois sabe que seu silêncio não lhe trará
                    aborrecimentos, desconfortos, opositores, condenação
                    — viver assim é bom, muito bom!

                    O objetivo do omisso é ser simpático, submisso,
                    cínico, apático. Sua preocupação é apenas com
                    os seus negócios. Seu compromisso é consigo, com o
                    seu mundo restrito, sua família, seus amigos queridos
                    — e dane-se o que acontece no bairro, na cidade,
                    no estado e no país em que vive! Danem-se os que
                    não têm comida, saúde, salário, esperança, abrigo!

                    O omisso não tem nada que ver com isso e aquilo,
                    diz que não pode se envolver para não se comprometer,
                    para não se expor em razão do cargo que ocupa.
                    Essa é uma das desculpas para permanecer
                    em silêncio subserviente, para continuar ausente,
                    conivente, tão opressivo quanto os que oprimem,
                    tão repugnante quanto os empobrecidos que,
                    embora não assuma, também repulsa.

                    E o omisso faz (ou não faz?) tudo isso sem remorso,
                    sem dor no pescoço, sem sentimento de culpa,
                    pois o que busca é o que tem: casa, trabalho,
                    comida, fartura, dinheiro investido e prestígio.
                    O omisso é um grande filho da puta!








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